O dia estava a acabar quando, face a uma sequência de pequenas infelicidades, tivemos a necessidade de recorrer ao Centro Hospitalar de Vila Real. A defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi sempre algo pelo qual pugnei e bati, quando rebatia as críticas de pessoas que, sistematicamente, desvalorizavam e menorizavam o SNS. O problema é quando nos toca a nós ou aos nossos! A ideia romântica de um sistema público, como a prova mais reveladora da consolidação democrática e do desenvolvimento do nosso país, é parcialmente destruída porque nos trata com uma indiferença despropositada e incompreensível ou até nos falha.
Como chegamos a este ponto em que no nosso país (ou na nossa cidade), para sermos atendidos e tratados com a merecida e devida atenção, temos de ser bem relacionados ou ter os amigos certos, nos locais certos, para pedir um favor? Um “favor” que não é nada mais do que uma falha do próprio sistema. Há alternativa, claro que sim. O setor privado resolverá em boa parte, se tivermos dinheiro e disponibilidade para tal. Mas a pergunta impõe-se: e as pessoas que não podem, que não conseguem ter essa alternativa, como ficam? Ficarão à mercê do “sistema” onde o jogo da sorte será crucial para a resolução dos seus problemas de saúde?
A minha visão sobre o SNS foi parcialmente distorcida pela realidade. Pese embora a desilusão não superar o respeito pela importância histórica que o SNS afigura na sociedade portuguesa, mas representou para mim uma espécie de alarme perceber que o setor público está cada vez mais desigual, mais distante e mais desligado das pessoas.
As circunstâncias refletem, de uma forma transparente, o momento político do presente, no qual muitas pessoas deixaram de acreditar e de sonhar com um mundo mais justo e igualitário, onde não se sentem suficientemente importantes para serem iguais aos outros!
Será o sentimento de abandono e revolta o grande responsável pela procura de novos protagonistas políticos, vestidos com fato e gravata (ou farda), e com promessas de super-heróis?