Sábado, 12 de Julho de 2025
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Ascenso Simões
Ascenso Simões
Ex-Secretário de Estado e ex-Deputado

Vila Real 2035

Com a realização das eleições legislativas termina um ciclo de governação do município de Vila Real.

Não quero fazer qualquer balanço sobre os últimos doze anos. Correria o risco de ser injusto, excessivo ou mesmo imprudente. Sei que o que se concretiza nos diversos níveis de poder é sempre fruto de uma circunstância e, por isso, revela-se sempre mais pertinente o caminho para o futuro. Mas sempre posso dizer que carecemos de mais ambição.

O Partido Socialista apresentou já o seu candidato. Pela realidade municipal não será questionável que Alexandre Favaios venha a ser o próximo presidente da municipalidade. É exatamente a ele que dirijo este texto e estas propostas.

Vila Real não é um concelho do interior do país. Se partirmos do Porto de Leixões, ou do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, estamos a menos tempo do que o centro de Vila Nova de Gaia, mesmo do centro da cidade do Porto. Esta realidade, concretizada pela construção do Túnel do Marão, deve fazer com que o concelho se abra à Área Metropolitana do Porto e retire dela todas as vantagens possíveis. Importa que se abandone o choradinho do “interior” e se afirme a centralidade.

Até ao final da primeira década do presente século, Vila Real era uma terra de função pública, serviços e comércio. A função pública reduziu-se significativamente, os serviços seguiram pelo mesmo caminho e o comércio transfigurou-se, dando lugar às grandes superfícies que asseguram algum emprego, mas fizeram reduzir os rendimentos per capita.

Em suma o salário médio dos vila-realenses diminuiu muito.

Os serviços viram morrer empresas de capital local para darem lugar a grupos exteriores.

Isso não seria mau se esses grupos promovessem investimentos complementares em Vila Real, só que não tem acontecido.

O alargamento da Zona Industrial de Constantim/Andrães, com mais 30 hectares, para já, foi uma decisão aparentemente correta para resolver problemas imediatos. Só que Vila Real precisa de muito mais.

É para esse “mais” que os próximos dez anos terão de bastar.

Se queremos afirmar a nossa realidade geográfica, o nosso potencial económico, a nossa empregabilidade e a nossa mão de obra somada à inteligência instalada ou a instalar, o município tem de encontrar os recursos para a construção de um moderno e futurista Parque de Industrias e Inovação.Esse parque não pode ter menos que 300 hectares logo na primeira fase de construção e deve ter capacidade para se alargar até mil hectares. Os seus lotes devem ser significativos para que empresas transnacionais se possam aqui instalar, a promoção deve ser profissional, feita a nível internacional por consultora de renome, e nada do que é hoje essencial (muito alta tensão, velocidade de dados de topo, autonomia energética e sustentabilidade ambiental, acessos rápidos, capacidade de fixação de quadros, formação superior à medida e habitação) pode faltar.

Apresento uma solução visual que pode servir para a discussão e, claro está, nunca viria a ser completamente seguida por razões autorais, de orografia, projeto ou garantias ambientais.

Este seria o Modern Park of Villa Real, projeto que deve ser considerado numa ótica integrada.

Vila Real respira automobilismo, mas o caminho que vem sendo seguido obriga a outra visão.

Ao longo dos últimos dez anos foi feito um investimento muito significativo nas “corridas”. A questão que se coloca é simples – com a atual realidade é sustentável o projeto municipal ao nível dos desportos motorizados? Lamento, mas não acredito!

Precisamos de deixar de fazer “corridas” só para nossa satisfação pessoal, para passarmos a fazê-las como grande objetivo estratégico de desenvolvimento.

Ora, um projeto que conceda a Vila Real centralidade nos desportos motorizados deve olhar para todos os âmbitos, deve garantir que os investimentos se multipliquem, deve afirmar profissionalismo e futuro.

As avultadas somas de recursos que o município terá de concretizar na próxima década devem, pois, ser olhadas numa perspetiva multifuncional, construindo um autódromo e uma pista ciclocross e motocross como elementos primeiros exatamente nos terrenos contíguos ao novo parque empresarial.

Ainda no mesmo território, deveria ser prevista uma nova urbanização smart que permitisse a construção individual e coletiva com transportes garantidos e seguindo as melhores práticas conhecidas.

Portugal está a concretizar o programa de fundos europeus que vai até ao final desta década. Para que se possa avançar para esta grande iniciativa é preciso realizar, com rapidez, o projeto base e promover as expropriações. Olhando todo o território municipal com as suas implicações ao nível da reserva ecológica e agrícola, para a titularidade das propriedades e, ainda, para os acessos, só as freguesias de São Tomé do Castelo e Mouçós podem permitir os mil hectares de que acima falei. Não podemos ficar, no que aos terrenos diz respeito, por menos do que essa área.

Esta ambição, que deixa agora de ser minha para passar a ser do próximo Presidente da Câmara, não teria tido, por diversas razões, qualquer sucesso no passado distante ou recente. Pode ser que agora tenha. Afinal, trata-se de dar a Vila Real uma nova era. Todos os autarcas gostam da ficar na história por projetos que marcam verdadeiramente, aqui está um que vale a pena. Sejamos ávidos de progresso.

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