Sábado, 15 de Novembro de 2025
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Gabriela Botelho
Gabriela Botelho
Criminóloga

Abuso sexual de crianças: nem sempre o perigo está na rua

Dia 18 de novembro assinala-se o Dia Europeu da Proteção das Crianças Contra a Exploração e o Abuso Sexual.

Estes crimes estão entre as piores formas de violência contra as crianças consagrando-se numa grave violação dos seus direitos.

A prática prolongada do abuso sexual implica a existência de uma relação de confiança entre abusador e a vítima e isto explica o facto de apenas uma minoria dos casos serem levados a cabo por alguém totalmente desconhecido da criança e da respetiva família. O que torna este crime tão perigoso e silencioso é que frequentemente, a ameaça está muito mais próxima. Em 40% dos casos o agressor é alguém conhecido ou próximo da família e entre 30% a 50% dos casos são perpetrados por elementos da família. Assim, é muito mais fácil, para o agressor estabelecer a relação de confiança necessária para que o abuso ocorra sem que a criança perceba que está a ser vítima de violência.

É este contexto que faz do abuso sexual de crianças um crime prolongado no tempo. Durante este período é frequente existir uma escalada da violência, iniciando-se com pequenas carícias, evoluindo, eventualmente, até atos penetrativos. Isto vai fazer com que os atos sexuais sejam percecionados pela criança como demonstrações de afeto. O agressor pode inclusivamente misturar toques de afetividade adequados e normativos com toques de cariz sexual, com objetivo de provocar confusão à criança, dificultando a identificação da situação de agressão.

Quando toma consciência de que a situação não é normal, é extremamente difícil que uma criança tome a decisão de a revelar, devido às ameaças, à violência, subornos e principalmente à manipulação que o abusador põe em prática sobre ela. Por este motivo, se a criança ganhar coragem para contar a alguém, é fundamental não desvalorizar os seus sentimentos de culpa, vergonha e medo, nem minimizar a gravidade da situação, mas fazê-la sentir-se segura, ouvi-la, acreditar no seu relato e desresponsabilizá-la. Ainda assim, existem pormenores que nos podem alertar para a veracidade de um relato, como os detalhes sexuais que a criança descreve. Apesar de o fazer com a sua linguagem e perceção, a verdade é que uma criança não irá detalhar cenas de cariz sexual se não as viveu.

A prevenção deve ser uma prioridade no combate ao crime de abuso sexual de crianças e passa essencialmente por dois aspetos. Em primeiro lugar, através da educação sexual nas escolas, onde aprendem mais sobre o seu corpo e a distinguir afeto de abuso. Em segundo lugar, a família deve ser um sítio seguro para as crianças expressarem as suas preocupações e tirarem as suas dúvidas, sem tabus.

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