Sábado, 25 de Janeiro de 2025
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Paulo Reis Mourão
Paulo Reis Mourão
Economista e Professor Universitário na Universidade do Minho. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

As secas no futebol distrital

Decorreram até à data 19 das 34 jornadas do campeonato distrital da AF Vila Real.

Nesta fase em que já se dobrou o meio, o que verificamos? Verificamos que duas em cada três das equipas cimeiras jogam em casa a norte de Vila Pouca de Aguiar. Cinco das últimas seis jogam a sul de Vila Pouca de Aguiar. Haverá algum destino fatídico para a jusante do Corgo a competição ter este desempenho? Haverá algum talismã no Alto Tâmega para este fenómeno? Vamos refletir hoje sobre a questão.

Em primeiro lugar, o futebol amador ou semiprofissional é importante! Ainda é a escola de craques que, anos depois, descobrimos a jogar nos maiores clubes nacionais e internacionais. Ainda é aquele espaço de encontro entre vizinhos. Ainda é aquele momento de comentário espontâneo longe do snobismo televisivo, da gíria painelista das televisões e com o sotaque único que só os apaixonados adeptos encontram repetido quando ouvem as rádios locais por esse domingo à tarde (aliás, os estudiosos encontram facilmente a belíssima geografia de sotaques sobreviventes no retângulo português se fizerem zapping pelo computador nos sites das rádios locais, por exemplo em https://radioonline.com.pt/ , num domingo à tarde). O futebol amador ou semiprofissional vive com esforço, mas, no geral, sabe viver. A menos que alguém tenha feito as contas às custas de outros, os clubes, com os apoios da comunidade, com os apoios municipais e com outras receitas próprias, vão conseguindo subsistir e cumprir. Portanto, se tanto existem clubes sobreviventes a norte como a sul do distrito, não poderemos dizer que no Barroso há melhores gestores desportivos do que na bacia duriense. Também no Barroso não devem sofrer mais pela bola do que os do Sul do distrito. Finalmente, não devem ter muitos mais jovens talentosos, mães-dolores sofredoras, ou melhores sapatarias com chuteiras com ar condicionado do que os das encostas durienses.

Então, porquê esta concentração? Quando o sol nasce, nasce para todos, e os seus raios caem aleatoriamente tanto no Maria de Lurdes do Amaral como no Municipal da Lage. Ou na Feira Velha em Sabrosa como no Seixo de Murça. Mas, quando o sol se põe, uns ficaram com mais vitamina D do que outros. Portanto, também a geografia e o pai solar equitativo não podem ser responsabilizados pela diferença de pontos conseguidos ou de golos marcados.

É então que entra um dos conceitos mais importantes para a civilização económica – o excedente, isto é, o capital. Onde há excedente, pode haver troca. Onde há troca, há comunicação. Onde há comunicação, há desenvolvimento. No Barroso, com os excedentes dos plantéis dos clubes como o GD Chaves ou o Montalegre, criam-se pressões nos clubes envolventes que motivam mais os jogadores, que elevam os resultados e que alimentam os desequilíbrios que se vão notando. Quantos destes clubes raianos são Chaves B, ou Montalegre B, ou outros B? E quantos dos nossos clubes durienses são, no fundo, anti Bila, anti Régua ou anti qualquer coisa? E eventualmente até são sobretudo anti alguém no Bila, anti alguém no Régua, e anti algum vizinho que me ficou com aquela galinha poedeira?

Quando as coisas se fazem por valor, por vontade, por bem-querer, independentemente de serem em grande ou em pequeno, aparecem bem feitas e dão bons frutos – sejam eles grandes como um calondro ou pequeninos como uma amora silvestre. Quando as coisas se fazem contra algo, contra alguém, com rancor ou com azedume, o que fica? Terra árida, seca, a suspirar pela água a montante.

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