Rui Santos e Luís Tão não têm o conhecimento do embaraço que causam aos habitantes que os elegem. Têm conhecimento de sobra do eleitorado, que vota nem que eles façam malabarismos com salsichas e se embeicem em patê de atum.
A minha relação, nos tempos mais recentes, com Vila Real, cidade em que nasci, tem sido paralela com a que tenho com a fé. Sempre que as coisas não estão como gostaria que estivessem, a tendência é aproximar-me. O paralelismo pode estender-se quer ao ginásio quer ao açúcar.
Mas quando as coisas estão nos antípodas daquilo que desejamos, o provável de acontecer é um afastamento que, tal como a aproximação, é temporário.
Este afastamento remete-nos para o ano de 2021, quando tomei tempo, por liberdade, para assistir a debates para as eleições autárquicas. Aproximei-me da realidade comezinha de tal forma que aguardei com expectativa a vez de Vila Real. Jurei para nunca mais. Esta conclusão que retirei proveio de ter considerado o debate sobre a nossa autarquia, o pior de todos. Um debate que proporcionou um momento que faria migrar telespectadores da CMTV para a RTP1. Bastaria um passarinho lhes contar que a um curtíssimo zapping de distância Rui Santos e Luís Tão os conquistariam com uma chama imensa de uma acesa troca de farpas, que abafaria um volume grande de discussões, em que participam senhores, uns que proclamam e outros que cantam ter uma chama imensa, sobre frames de um desporto em que se trocam bandeiras farpadas.
Foi até cancelado um intervalo para publicidade com o objetivo de equipar os debatentes com cartolas, monóculos, relógios de bolso, cachimbos a ver se a elevação no debate poderia ser recuperada. Talvez ter substituído insultos escritos em papel por insultos escritos em papiro não fosse eficaz. Ainda bem que não aconteceu, seria a forma de não conseguirem representar sequer minimamente Vila Real, onde o papel já é usado há muito.
Discutir a estimulação da economia, não estimula tanto quanto o exercício de um discurso insultuoso de pouca economia.
Aquele ambiente não era para eles, e notou-se a falta que cada um sentia de um bom barro preto a determinado momento. Imagino que ambos estivessem a sentir que estavam a falar para uma parede.
Se a eloquência não é o principal, pelo menos o conteúdo deve ser: a exposição das medidas, a sua essência e fundamento e os resultados esperados e a relevância dos mesmos.
O pingue-pongue acusatório não deu tempo a que se sentissem saudades. Prossegue até aos dias de hoje por publicações com luzes de desprestígio n’ A Voz de Trás-Os-Montes. São estas as luzes a que Rui Santos se deve referir quando diz que “da discussão surge a luz”. No debate televisionado, os estúdios da RTP não sofreram o impacto de dois navios e 4 embarcações piscatórias apesar da luz intensa daquele estúdio sinaleiro.
As desavenças que trouxeram ao debate levaram Rui Santos a expor uma situação grave que se possa ter passado na NERVIR sob a direção de Luís Tão. No entanto, a exposição de conflitos laborais, gerados por questões salariais, tem o Tribunal do Trabalho como lugar próprio à resolução dos mesmos. A amplificação do caso, que dá esperança de voto a quem acusa por considerar que a revelação é de interesse público, apenas tem como objetivo danificar a imagem do adversário, quando este pode responder em tribunal, servindo o interesse público, se a Câmara, que não tem qualquer responsabilidade, reencaminhar os lesados para o sítio certo.
O mesmo sucede quando Rui Santos diz que “poderia não dar importância a tudo isto”. Valoriza o esforço de trabalho extra que colocou numa iniciativa de resposta passível de frustração, se os habitantes lhe fizessem a desfeita. “Os Vila-realenses são inteligentes” e não deixam que tal dose de esforço seja em vão. Como se fosse maior o interesse dos Vila-realenses em saber o conteúdo a que Rui atribui importância do que o seu interesse em expô-lo. Para já, dotado com a minha inteligência natural de Vila-realense penso que há menos interesse em saber “tudo isto”, mas com duas almoçaradas conseguirão convencer-me do contrário, deve ser a minha chico-esperteza freguesa que fala mais alto.
Já Luís Tão acha que desde o princípio disto tudo tem sofrido de bullying político. O que, à minha consideração tem valor, porque sofri de bullying culinário na altura em que apresentei o meu primeiro soufflé. Ficou um muffin saboroso, isso vale a perseguição de que fui alvo? Leva-me a colocar questões como: O bullying psicológico fica exclusivamente ao encargo dos psicólogos?
O que aconteceria à Ciência se Newton e Einstein tivessem coexistido e se se pegassem? Creditá-la-íamos como hoje? A impossibilidade poupou-nos a esse desfecho de bullying físico. Deus, que nos coloca no mundo, ajudou a Ciência.
Intitulam e enriquecem os seus artigos com expressões populares em que, como sabemos, acentuam a seriedade da discussão e é dito exatamente o que assenta o adversário como uma luva e apetece dizer: “Pega, que com esta, já almoçaste! Esta bota já não descalças tu, se esta carapuça não te serviu, meu bandalho!
Muito fortes na sabedoria popular e no comentário político, onde parece que Luís Marques Mendes fez parte da sua formação política, recupero com saudade as senhoras que das suas varandas tinham sempre um frente-a-frente. O ato de tirar e pôr as molas soa como castanholas em plano de fundo quando misturadas em tamanha arte. “ -Eu sou como eles, levo isto muito a sério, mas se me visse lá, tu sabes como sou, era igual, igual, igual: da-na-da para a brincadeira.”
Elas chegam a impor medidas e atuar em conformidade no caso da Dona Glória do 3º Esquerdo mais rapidamente, mas estas sabidas com muito treino oh-oh chegam lá bem mais rápido. Precisam de quinze minutos de debate para pôr medidas em cima da mesa, que daqui a cinco têm de pôr lá o almoço e a mesa já está posta.
O neto não ajuda a avó porque diz que está escrever qualquer coisa importante, mas diz a avó que “se apanhasses aquilo que eu digo, é que fazias bem ”.