Domingo, 8 de Dezembro de 2024
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António Torres
António Torres
Estudante de Mestrado Integrado em Engenharia de Materiais

A omnipresente semelhança entre os Exames Nacionais e a praia do Meco

Ahhh estão a chegar os exames nacionais… significa que… Ahhhhhhh está no ar o cheiro a verão… O que, por sua vez, significa que hão de vir casacões e malhas de lã. Está, portanto, na altura de, finalmente, acabarem com as sobras da moda Outono/Inverno para as montras se encherem com a nova e refrescante Moda de Inverno que marcará o próximo Verão.

Como em todos os anos, o Exame Nacional exige preparação longa e antecipada, capacidade de foco no essencial por se tratar daquilo que, muitas vezes, determina o acesso ao Ensino Superior e define o que se fará no futuro profissional, daí a urgência na chegada desta nova coleção para que os alunos possam pensar o que vestir no dia mais importante da Season. Recapitulando, é bom que a atenção por parte dos estudantes, neste momento, esteja a ser dirigida para a linha de camisolas de gola alta da Lã-nidor, para os kispos Copa Cabana, os Sobretudos Água de Coco, os gorros Pala de Surf e para as galochas Calipo.

Quem já encomendou os catálogos para distribuir foi a direção da Escola Secundária Pedro Nunes, depois da proibição, por parte da sua direção, de “calções demasiado curtos” e “excessivos decotes”. As proibições estendem-se à assistência de aulas e, no limite, ao impedimento de realização de um exame. Tenho só pena das pessoas que tinham um crop top da sorte.

Ultimamente têm sido feitas, e bem, comparações dos Exames Nacionais com a praia. Não na medida em que têm-se tornando um brinca na areia, nem na medida do popular alerta dos professores “Não te ponhas tanto ao sol que te queimas”, mas na vertente de ser realizado em simultâneo com uma prática escolar em crescendo, o nudismo.

Da minha experiência, que partilhei escola com muitos rapazes e raparigas, sei por facto que aqueles que praticamente despidos foram para o exame invariavelmente reprovaram e mesmo os resultados daqueles que foram adequadamente vestidos foram corrompidos por distração de pouco pano alheio. Tanta distração que me lembra o episódio do Manuel da minha turma. Preparara-se realizando o exame de Português de 2010. Não interessa se o fez bem ou não, logo ao princípio apontou no seu caderno “Exame de Português de 201000” com dois zeros a mais, bem redondinhos, por sinal. Deve ter começado pela composição … da moça.

A correlação de pouco pano – resultados pouco satisfatórios tem apenas o problema de ser brilhante. Na verdade, tem mais pois não considera outros fatores também eles influidores de maus resultados. O que os levou a pensar “Espera, os alunos há uns anos usavam mais roupas, os resultados eram mais elevados, menos roupa, mais baixos são”, não os levou a pensar “Há uns anos para cá deixou de se servir na cantina papas de sarrabulho, que coincide, espera, estou a detetar, com a descida das notas dos exames. Tem de haver uma aposta maior de pratos pesados do Minho ao almoço”. Podem ter sido as papas, roupas “indecentes” as responsáveis pelo pior desempenho escolar, mas podem bem ter sido outros acontecimentos tais como: menos intervenções públicas de Manuel Alegre, menos concertos do Tony Carreira ou de o Hélder Postiga ter pendurado as botas ou do CHEGA ainda não ter chegado ao poder – diz o CHEGA. Felizmente foi considerado o aumento do efeito de Aquecimento Global, ele também prejudica a produção dos alunos e para o combater só de casacão. Parece não fazer sentido, mas o raciocínio que ocupou a direção da Secundária liga o Aquecimento Global ao degelo, de onde nasce a necessidade de criação de gelo e de colocar um agasalho, pois avizinham-se tempos muito frios.

A correlação é algo que não é pera doce. Acredito que para os membros deste conselho diretivo não tenha sido simples, em pequeninos, entender a história da Branca de Neve. Quando a protagonista da história desfalece, muito desconfiada, a diretora desabafou “Estou triste, gosto muito da Branquinha. Mãe, não é nestas idades em que a Branca de Neve se situa, que se fazem madeixas? Pois… Os voláteis dessas tintas podem bem ter-lhe causado isso… aquilo é tóxico, não é mamã? Temos é de ver quando chegar a parte do livro em que se fala do cabeleireiro a que a Branca vai, maldito cabeleireiro!”

É evidente para a Srª diretora, outrora menina diretora, que uma maçã só faz bem mesmo sendo oferecida por alguém com o nome de Rainha Má “Rainha Má, má, filha! Má e oferece maçãs”. “A Rainha Má?! A senhora simpática da maçã? Hum, não sei mamã… O quê que ela fazia antes de se juntar com o Rei? Não há registo, nunca disse na história se ela, solteira, era a cabeleireira da terra…”

Por fim, a obrigação de ir mais tapado para a escola, obrigará, em dia de exame, a uma vigilância mais apertada, não vá um aluno aproveitar esta situação para cabular melhor. Usando três calças, que se aproveite cada camada de calça para colar pelo menos um terço da descrição do Ramalhete d’ Os Maias. Na minha época de Secundário, não me passava pela cabeça copiar pela Sónia da maneira que ela se vestia. Mas hoje, caso não lhe fossem revistadas as coxas, pensaria duas vezes, tendo em conta que me parece um grande pedaço de enciclopédia andante. Digo hoje, porque a Sónia ainda está no Secundário. Os tempos aparentavam não mudar – para a Sónia – mas amanhã terá o seguinte diálogo com o vigilante:

A menina veio despida para o exame? Só de conhecimento! Muito bem, segunda fila, carteira do meio.

É preciso mais e fazer, realmente, alguma coisa, pela Sónia e pelos demais alunos. Se não forem umas reguadas num cu de difícil acesso que mal se enxergue, não sei o que será.

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