Para além da censura exercida diariamente pelo lápis azul aos órgãos de comunicação social, também os escritores foram alvo do mesmo tratamento. Foram 900 as obras identificadas como tendo sido proibidas pela ditadura entre 1933 e 1974, numa lista compilada pelo investigador José Brandão. Os temas mais censurados foram o humor, a sátira política e o erotismo.
Estão nesta lista autores portugueses como Miguel Torga, Natália Correia, Urbano Tavares Rodrigues, José Cardoso Pires e alguns dos nomes relevantes da democracia portuguesa depois do 25 de Abril, como Sá Carneiro, Mário Soares, Almeida Santos, Sottomayor Cardia, Manuel Alegre, Salgado Zenha e Pacheco Pereira. Entre os autores estrangeiros que viram as suas obras proibidas pela ditadura encontramos Nietzsche, Jorge Amado, Henry Miller, Vladimir Nabokov, Karl Marx, D.H. Lawrence ou John Cleland, entre muitos outros. José Vilhena, humorista, foi o autor mais censurado, que viu 29 dos seus livros serem proibidos, tendo após o 25 de abril publicado a famosa revista humorística Gaiola Aberta.
Esta lista contempla apenas exclusivamente títulos da edição portuguesa, não incluindo obras brasileiras ou de outras proveniências. Algumas destas obras estavam sujeitas a uma proibição especial, variando entre a Metrópole e as Colónias. A lista inicia-se em 1933, ano da publicação do Decreto nº 22469 de 11 de abril de 1993, que instituiu “a censura prévia também aos livros”.
Celebrar o dia da liberdade deve servir também para lembrar os mais novos que sempre viveram em democracia (incluindo eu), que há 50 anos os nossos pais, avós e bisavós estavam privados das mais básicas liberdades. Alguns destes lutaram para garantir a liberdade que temos hoje, com todo o prejuízo que tiveram à época em prol da liberdade dos outros. Esta data deve servir ainda para lembrar que a liberdade não é, nunca um valor garantido. Deve ser preservada contra todas as ameaças, independentemente da sua origem, cor e ideologia, sem reservas, sem “mas”.