Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2024
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António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO | Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real

“Vi tanta esperança andar à solta”

Quando José Mário Branco fez o poema, tudo era esperança, pois o sonho mau tinha passado.

Com a sua viola numa mão e a rosa vermelha noutra, a esperança de construir um Portugal novo, diferente, melhor, estava a tornar-se realidade. Na Escola das Árvores, em Vila Real, este ano iniciámos a nossa já habitual sessão na biblioteca com os alunos do quarto ano com este poema. Foi muito bom ver como aquelas crianças souberam ler numa palavra cada uma das estrofes. Aliás, o mesmo se passou com o documentário de Carlos Daniel, de que visionámos os primeiros seis minutos: “igualdade perante a lei, democracia como sistema político mais perfeito, todas as pessoas podem exprimir a sua opinião, todos têm direito ao voto e acabar com presos políticos”.

Estive atento às manifestações que decorreram no país sobre os 50 anos de tão importante data. Desde a distante Lisboa ao Porto, Vila Real, ou Alijó. Foi bom ver que, quer a nível institucional, quer a nível popular, se viveu a alegria de Abril e se refletiu sobre o momento de então, que se tornou num importantíssimo abrir de portas de esperança para o futuro – “as portas que Abril abriu”, como canta Ary dos Santos. Foi bom, pois, ver a Avenida que conhecemos, como de Liberdade, num mar de gente, de muitas e variadas cores, partidárias e culturais, integrando os que fizeram Abril, os que nasceram e cresceram a seguir, muitos dos que hoje nos representam no Parlamento e o seu próprio Presidente! Em Alijó, porque passam 50 anos, deu-se voz a 50 antigos combatentes da guerra – ultramarina, colonial? – cada um terá o seu prisma. No auditório ficou patente uma exposição com esses testemunhos de vida. Outros, de morte, também foram lembrados. Não se esqueça que a guerra foi terra onde a semente da libertação germinou e se desenvolveu. O calor da Guiné foi propício a tal.

Foi bom participar e celebrar Abril, mais uma vez. Quando se encontram escolas que fazem do 25 de Abril, todos os anos, tema de trabalho, nas aulas e na biblioteca, que transpõem para um mural a sua reflexão e que fazem questão de a registar no podcast da Rádio Universidade, podemos concluir, como o poeta, que podemos chegar longe, pois “temos muito pra nos dar” e no-lo damos mesmo. Quando o povo sai à rua e faz transbordar avenidas e praças, quando a História é lembrada e se respeitam os atores, podemos concluir que há muita esperança para continuar a construir o que outros nos deram, tantas vezes, com muito sacrifício e risco das próprias vidas.

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