Domingo, 19 de Janeiro de 2025
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“Do livro do Profeta Trump”

Aqui há uns tempos, o candidato presidencial Donald Trump afirmou que estava convencido de que foi Deus que o salvou no atentado que sofreu.

Foi um milagre de Deus ter tido a vontade de mover a cabeça no preciso momento em que a bala o ia atingir, de modo que só lhe raspou numa orelha. Portanto, Deus estava do seu lado. Isto só pode significar que Trump é um homem providencial, um eleito, um escolhido por Deus. Ainda não podia morrer porque faz falta neste mundo, Deus tem uma altíssima e nobilíssima missão para ele, é um instrumento de Deus para a salvação da humanidade. Maior colagem a Jesus Cristo não poderia haver, salvo seja.

Fica-se espantado como é que há políticos que conseguem dizer estes devaneios celestiais e estas larachas fantasiosas sem pestanejar na televisão e perante multidões, com ar sério e meditabundo, sem fazerem assomar ao rosto o mais leve sorriso ou o mais leve sinal de pilhérico constrangimento. E espantado se continua que haja partidários ou simpatizantes, aos magotes, que creiam ferreamente nestas atoleimadas narrativas, sem qualquer fundamento por onde se lhe pegue. Todo este palavreado grotesco merece uma estridente gargalhada e uma espaventosa repulsa.

Como é que a política em pleno século vinte e um ainda embarca em messianismos, em predestinados ou protegidos para liderarem projetos salvíficos ou restaurações políticas ou religiosas! Discursos que não passam de puras petas para incautos eleitores ou crentes, que não se importam de ver Deus ser invocado em vão. Esteja descansado Senhor Trump. De facto foi um milagre não ter sido atingido de forma mortal pela bala, mas foi pura obra do acaso. Na vida temos muitos acasos e algumas horas de sorte. Foi o que lhe aconteceu.

Porque se Deus se desse ao capricho de defender um poderoso com tão duvidosas ideias e intenções para o mundo, como é que os pobres e infelizes deste mundo ainda poderiam almejar sustentar a sua fé?

Trump procura oportunisticamente conquistar eleitorado católico. E pelos vistos alguns argutos sequazes e conselheiros incentivam-no a passar a mensagem de que vai promover uma restauração católica ou preservar a América como bastião do Cristianismo. Já não é de agora a instrumentalização de Deus para legitimar ambições políticas, reinados e lideranças políticas. E custa ver como por vezes a Igreja abençoou regimes bárbaros e criminosos. O que ficou claro é que juntar política e religião nunca acabou bem e foi sempre fonte de equívocos.

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