Quem anda na vida política sabe isso muito bem. Esta decisão de reduzir o valor dos passes sociais nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, agora alargada a todo o país, é uma dessas medidas eleitoralistas, como foi o aumento salarial da função pública, decretado por Sócrates em véspera das eleições em 2009.
A questão a saber é se a medida é justa e se tem cabimento orçamental. Que é justa, ninguém o pode negar, do ponto de vista do que é dar benefícios sociais aos cidadãos. Pode, no entanto, ser injusta se esses benefícios não atingirem todos os cidadãos, como é o caso. Só onde há transportes coletivos públicos é que se beneficia desta regalia. Onde estes não existem, como é a generalidade do território nacional, os residentes ficam a ver navios, como se costuma dizer.
Mas, há ainda outros pormenores (que nos parecem “por maiores”) que uma boa governação deveria acautelar. Como se percebe, o Governo está a gastar em consumo, o que deveria afetar a investimento, designadamente nas infraestruturas de transporte público.
Tem sido notícia corrente, que os comboios geridos pela CP andam uma verdadeira desgraça, ao ponto de ter caído recentemente um motor de uma locomotiva que estava a circular. A Linha do Douro, que conhecemos melhor, é uma catástrofe continuada, com a eletrificação até ao Pocinho marcada para as calendas, para não falar já, da reposição da via até Barca de Alva, para permitir a ligação a Salamanca, como há muito se reclama.
Ou seja, repetindo-nos, vamos consumir agora, o pouco que temos, e deveríamos investir em termos de futuro, para as novas gerações. Com que argumento? Um deles, a diminuição do número diário de carros que entram em Lisboa e Porto, assim reduzindo o consumo de combustíveis e a emissão de CO2. Não é seguro porém que esta poupança de combustível, não venha a ser utilizado pelos utentes, nos seus tempos livres, mas adiante.
Recorda-se também, que vem sendo anunciada a construção de pelo menos mais duas estações do Metropolitano em Lisboa e o prolongamento da Linha do Metro do Porto, com verbas de fundos comunitários e do Orçamento Geral do Estado. Ou seja, investimento que será suportado por todo o país, mas com benefício apenas para quem vive nestas áreas.
Ainda uma última observação. Estas empresas públicas de transporte, é suposto terem uma gestão equilibrada na sua exploração. Com esta redução tarifária agora decretada, que se prolongará por certo eternamente, continuaremos a alimentar elefantes brancos, com receitas dos nossos impostos. Quem ande a pensar que com o crescimento da nossa economia (onde está o crescimento?) será possível aliviar no futuro a carga fiscal, que se desengane. Se esta carga é um enorme embaraço para os cidadãos que pagam impostos, veja-se as dificuldades das empresas. Como se sabe, o crescimento da economia, só é possível com empresas saudáveis e estimuladas por níveis de fiscalidade semelhantes às daquelas com quem concorrem nos outros países.
Certamente que o nosso Ministro das Finanças tem tudo isto acautelado, pelo que os receios do que aconteceu com os excessos da governação socrática, jamais se farão sentir. Ainda assim, como diz o nosso povo, gato escaldado de água fria tem medo.