A tentativa e o oportunismo de secundarizar a importância do setor da Educação, na nossa construção coletiva, pode ser invisível no presente, mas será recordado no futuro como o “erro do século” se mantivermos a degradação da Escola Pública e dos seus profissionais. Fazer os governantes entenderem que a proteção do tesouro do país não está em mais nenhum local para além da Escola Pública é um desafio enorme, mas nunca pode ser um “inconseguimento”, pois é esse o motor da luta dos professores.
A greve dos professores, como direito constitucionalmente previsto, foi a única maneira encontrada (depois de tantas esgotadas) para acordar o país e sensibilizar a sociedade civil e os decisores políticos para a justeza das suas reivindicações. A greve magoa, causa transtorno e incomoda porque o encerramento de algumas escolas é inevitável. Mas pensaríamos alguma vez que se assim não fosse existiriam tantos comentadores e opinadores mais preocupados em discutir o impacto da greve do que o (severo!) impacto de um setor fragilizado e sem condições para garantir o futuro do país? As preocupações desses pensadores foram várias e bem imaginativas: designadamente sobre a recuperação das aprendizagens dos alunos (que tanto sofreram com o quadro pandémico anterior), mas esqueceram-se que ainda existem 20 mil alunos sem professor, desde o início do ano letivo; depois a ideia da falta de acompanhamento dos alunos com necessidades especiais, que revelou um desconhecimento completo da necessidade de haver mais docentes do Ensino Especial, por forma a garantir esse apoio a todos os que precisam, sem ter a necessidade de selecionar apenas os casos mais severos; mais tarde, direcionaram a sua atenção para a remuneração do professor, onde [ainda muitos!] tiveram a coragem e o desplante de referir em direto na TV que os professores eram uns privilegiados, quando as várias peças jornalísticas evidenciam bem a dureza e a precariedade de uma profissão, que já foi nobre, mas agora só é mesmo rica de espírito e com 16 anos de espera, colocando vidas em suspenso.
Se a estratégia é voltar a perder os professores e não lutar por uma ideia de Escola Pública que envolva todos e valorize os seus profissionais, mantenha-se isto em mente: quem perderá será Portugal!