Sexta-feira, 29 de Março de 2024
No menu items!
Ricardo Almeida
Ricardo Almeida
Professor e Empreendedor Social

O salto inconsciente

A necessidade de fazer emergir uma visão disruptiva da organização dos cuidados domiciliários em Portugal, exige uma reflexão profunda, que põe em confronto sentimentos de impotência face às múltiplas realidades sociais do envelhecimento e a vontade hercúlea de querer mudar o mundo, fazendo deste um sítio mais acolhedor, humano e respeitador das necessidades urgentes das pessoas.

-PUB-

O passeio consciente deste desígnio inicia nas vontades principais de qualquer idoso, a de querer permanecer na sua própria residência e manter a sua autonomia, percorre incertezas da garantia dessa esperança legítima,  fruto da observação pragmática da realidade, e finaliza com a convicção da necessidade de contribuir, construtivamente, para a alteração do paradigma dos cuidados domiciliários.

Os modelos internacionais de apoio ao envelhecimento apresentam linhas orientadoras convergentes, mas também abordagens distintas, de acordo com as caraterísticas internas de cada país.  O Reino Unido, onde o Apoio Domiciliário é financiado pelo governo, implementa políticas determinadas pelo poder local, através da criação de um Conselho, onde se articulam as necessidades da comunidade com o acesso aos serviços necessários e da supervisão de agências privadas contratadas pelas próprias famílias. No caso da Austrália, o governo teve como prioridade o Apoio Domiciliário enquanto programa interventivo e preventivo, evitando e retardando a  institucionalização. O sistema nórdico, desde 1980, deu relevância às políticas de desinstitucionalização, com equipas de apoio domiciliário altamente especializadas,  onde o Estado garante, no caso da Dinamarca, a cobertura universal para aqueles com necessidades estabelecidas e benefícios fiscais para as famílias cuidadoras informais. O modelo alemão baseia o seu sistema de cuidados em políticas tributárias, programas de seguros e meios de avaliação de sucesso, enfatiza a universalidade, a possibilidade de escolha e a utilização do mercado regulamentado. O governo alemão é, ainda, responsável pelo registo dos prestadores de serviços, pela negociação  do preço e pela supervisão da qualidade dos serviços das entidades públicas e privadas.

Posto isto, abordar o envelhecimento de “pernas para o ar” significa ter, como prioridade nacional, políticas de desinstitucionalização. Mantém, ainda, premente a valorização do poder local como parceiro estratégico, uma comunicação mais articulada  entre os Hospitais e os Serviços de Apoio Domiciliário e a equidade de tratamento entre as instituições privadas e públicas. Demonstra também uma vontade de inovar em medidas concretas,  como as avaliações frequentes de necessidades; a diversificação na configuração de serviços; os planos de cuidados idealizados por objetivos; formação específica e rigorosa dos cuidadores formais, bem como em programas de intervenção de autonomia individual.

Será necessário passar de um passeio para um salto inconsciente para podermos aspirar a um modelo mais respeitador das nossas vontades?
 

OUTROS ARTIGOS

ARTIGOS DE OPINIÃO + LIDOS

Notícias Mais lidas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Subscreva a newsletter

Para estar atualizado(a) com as notícias mais relevantes da região.