As revelações foram surgindo naturalmente, a censura emocional nestas ocasiões não teve lugar e as tuas recordações foram sendo cada vez mais pormenorizadas, com o avançar da nossa idade. As histórias e as fotografias compunham e completavam a vocalização das tuas experiências, que tornavam possível imaginar alguns dos teus momentos passados na Guerra Colonial, juntamente com os teus camaradas, de quem tu te orgulhas tanto. O nosso sentimento foi de alívio e de grande respeito, pois para além de ser uma ideia longínqua e aterradora na nossa cabeça, foi a tua coragem e a dos teus camaradas que (também) contribuiu para protegerem as gerações vindouras.
A tua participação cívica, mesmo na clandestinidade, e depois do 25 de abril, reforça a importância que sempre atribuíste e que sempre soubeste transmitir sobre o sentido da Liberdade. “Dá-la como garantida é um dos grandes erros contemporâneos”, dizes tu várias vezes, talvez porque conheceste a repressão fascista e a censura, talvez porque te apercebeste do contexto difícil em que as pessoas acediam à saúde e à educação, principalmente aquelas que tinham maior fragilidade económica, talvez porque associaste a timidez social ao medo e à ignorância, responsáveis pela apatia cívica, talvez porque olhaste para um país pobre que se cristalizou no tempo, fechado e orgulhosamente só.
Mas por outro lado, acompanhaste a queda do regime, respiraste a liberdade no sentido mais puro e genuíno, experimentaste as primeiras eleições livres, participaste ativamente nos combates políticos e partidários por convicções e ideais, sentiste a Europa primeiro do que nós e olhaste (e olhas) para a democracia portuguesa como um projeto em permanente construção.
E por muito que fique por dizer, gostaria de te agradecer, porque o teu percurso continua a irradiar os valores de abril, mas agora vai para além dos filhos e toca nos teus netos……e por aqui não parará, Pai.
Obrigado Pai, pelos valores de abril!