A pobreza pode ser tratada no papel de muitas formas. Filósofos, politólogos, economistas e sociólogos têm tratado a pobreza de muitas formas no papel. Alguns deles também têm tratado a pobreza na crueza da humanidade. Podemos fazer muitos jogos de palavras e outros tantos de raciocínio, misturando na discussão pobreza e riqueza. A pobreza de uns pode ser a riqueza de outros ou então que o conceito pode ser artificial e muitas vezes gerador de problemas virtuais. Estaríamos aqui a relativizar a pobreza, desvalorizando a crueza de quem é pobre e dos mais pobres.
Ou então poderíamos mostrar como os mais pobres da nossa sociedade têm hoje mais conforto que muitos remediados de há alguns anos. Como têm acesso a doses calóricas (não necessariamente saudáveis) que antes eram impossíveis para rendimentos superiores. Ou que hoje existe todo um conjunto de redes desenvolvidas que auxiliam as comunidades mais expostas. Estaríamos aqui também a relativizar a pobreza, olhando para o copo meio-cheio.
Já sabemos que pobres sempre os teremos. Assim como pessoas baixas e altas, gordas e magras. Mas nem por isso deixamos de medir as pessoas e dizer que hoje tendem os Europeus a serem mais altos, em média, do que há duzentos anos. Também sabemos que mudámos conceitos ao nível do progresso da sofisticação. Hoje já não temos asilos nem lares, mas ERPI. Hoje também já não temos pobreza mas temos fragilidade social, exclusão social, subnutrição, obesidade, desperdício, disfuncionalidade social, dependências, iliteracias, desafetação, desenraizamento, solidão, violência, agressão, fealdade, abuso.
A pobreza desmembrou-se e como uma espécie bestial originou, em cada fração, um novo problema social, um novo fenómeno social, novas equipas de intervenção social e comunitária e novas exigências de recursos e de respostas. Antes, lutava-se contra a pobreza. Agora luta-se contra a fragilidade social, contra a exclusão social, contra a obesidade, contra o isolamento, contra os abusos, contra as dependências. Fragmentámos a nossa luta como guerrilheiros sociais e, no fim do dia, queremos acreditar que fizemos algo de bem e bem feito.
No entanto, aqui chegados, percebemos que a luta contra a pobreza, de tão fragmentada, acaba, muitas vezes, por estar desunida. Por isso, organizações como a Rede Europeia Anti-Pobreza são organizações que reúnem esses esforços, que maximizam a luta de cada pequeno-grande interveniente, e que os colocam em contacto. Intervenientes do terceiro setor, da iniciativa privada tão necessitada de responsabilidade social e intervenientes do setor público sempre tão fixados em regulamentos e normas para cumprir.
Uma coisa é certa: somos pobres ou ricos porque vivemos em sociedade. Porque nos sentimos como tal. E porque nos fazem sentir como tal. E, no entanto, sempre que alguém se descobre como valioso aos olhos do Outro, não ficámos menos pobres ou mais ricos, mas ficámos todos melhor.