Terça-feira, 14 de Janeiro de 2025
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Paulo Reis Mourão
Paulo Reis Mourão
Economista e Professor Universitário na Universidade do Minho. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Os que perdem dos que ganham

Desde Plutarco a Thomas More, ou de La Rochefoucauld a Churchill, condensei em quatro os grupos daqueles que, supostamente ganhando, ficam com azia no estômago. Pode ser em eleições para juntas, câmaras, clubes ou associações de pais.

Os opositores internos – não recolhem grande ganho e ficam geralmente com as culpas. Claramente, são os principais agridoces nas contendas. São militantes e filiados, alguns com as quotas em dia, mas sempre com o sarcasmo aguçado. Ganhar o partido é bom em teoria, mas chato na prática, pois não ganhou bem o partido, mas antes os adversários deles no mesmo partido. As suas ideias, os seus afilhados e as suas ambições vão ter de esperar, como um pudim que se coloca – não no congelador – mas no frigorífico.

Há depois os românticos – esperam muito mas ficam desiludidos. São os militantes anónimos, andaram com as bandeirinhas, com as partilhas nas redes sociais, com a voz exaltada depois do bagaço no café. Homens e mulheres bons que até se comovem na noite da vitória eleitoral, lembrando-se dos que cá não estão para a festejarem e dos que ainda não nasceram para a sentirem. Mas depois vem sempre o depois. Os meses passam, a estrada continua com buracos, a filha sem trabalho, o genro ameaça emigrar. Nunca mais abre a fábrica ou o ‘call center’ prometido, nunca mais aparece aquela oportunidade almejada. Ao contrário dos opositores internos que culpam sempre quem está no executivo municipal, os românticos não chegam a ter essa raiva. Limitam-se a, com as lágrimas que sobram da vitória, chorar o amargo da desilusão no restante do mandato.

Temos em terceiro lugar as eminências pardas – os jotas, os assessores ou os vereadores que querem subir mas estancam. Fizeram tudo bem – almoçaram e jantaram com quem deviam, aturaram o seu hálito, a mãozinha besuntada, tiveram de sorrir quando os outros não tinham graça. E, agora, passam os meses e eles continuam naquele marasmo. Não estão à chuva mas também não comem à lareira. Não são párias políticos – como os jotas, assessores e vereadores derrotados (incluindo chefes de divisão despromovidos) – mas também não são os filhos prediletos. Não são bastardos, mas assim se sentem.

Finalmente, as regiões e os eleitorados. Em democracia, a maioria ganha, logo a maioria das pessoas deveria ficar contente. E ficam por segundos ou minutos. Mas as pessoas são ingratas e precisam de bodes expiatórios. Os meses passam e vão culpar tudo e todos da filha e do genro emigrados, dos netos que não querem casar e sair de casa, da casa desvalorizada, dos campos mal amanhados. Muito da cruz do político é ser a vista possível de coisas exógenas que mandam nas pessoas – o destino, os poderes, a lei, o mundo como ele é. Por isso, muitas vezes, o político sofre do insulto, da difamação ou de atentados sem ter a mínima culpa. É uma imagem abstrata do detestado por muitos – nomeadamente, esses muitos perceberem que, ao votarem, também podem errar.

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