Segunda-feira, 13 de Maio de 2024
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50 anos de ditadura, 50 anos de liberdade

Em Portugal, há um conjunto muito importante de datas que convém não esquecer, embora o tempo, passando por elas, as faça esmorecer um tanto. Mas tornaram-se inesquecíveis para os portugueses e até para o mundo. Na História de Portugal, desde a independência do século XII até ao fim da monarquia no início do século XX, as datas (umas mais conhecidas, outras menos) contribuíram para que Portugal fosse sempre o que foi, umas vezes mais grandiloquente, outras com crises e maior apagamento.

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Em que lugar deveremos considerar a data de 25 de Abril de 1974?

Em 28 de Maio de 1926, depois de tempos republicanos acintosos e intolerantes, de confusões e falta de planeamento, surgiu o Estado Novo, o Estado Social, a Ditadura Nacional. Enquanto durou, esse regime impôs-se sempre pela força das leis geradas pelo salazarismo. Oliveira Salazar dirigiu o país durante décadas, tantos quanto tem agora o regime democrático surgido em 1974: em 25 de Abril.

Mas, antes que abril surgisse, foram muitos os homens e mulheres que procuraram mudar as coisas, batendo-se em várias frentes contra esse tipo de política e de ver o mundo que teve forte expressão na guerra colonial e no processo de emigração. Foi com estas que os portugueses sentiram a necessidade maior de mudança.

Vamos relembrar algumas dessas datas que foram um longo e doloroso período de atrasos, em que Portugal estiolou (“orgulhosamente sós”) quando o futuro já avançava por aí fora.

Golpes fracassados, persistência da revolução

7 de fevereiro de 1927 Primeira tentativa para derrubar a ditadura, a partir do Porto, por forças do exército que exigiam o regresso à Constituição que estava a ser desmembrada. Houve muitos mortos e muitos feridos, quer no Porto quer em Lisboa, a que esse movimento alastrou.

20 de julho de 1928 Um batalhão de Caçadores aquartelado no Castelo de São Jorge, na capital, disparou três tiros, dando início a uma revolta que não durou mais que doze horas.

4 de abril de 1931 Revolta da Madeira. O Funchal foi o cenário de um golpe militar, tendo sido presos e depostos representantes do governo nacional. Durou até 2 de maio, decidindo os seus mentores (“Junta Revolucionária”) entregar-se às autoridades portuguesas enviadas ao arquipélago.

26 de agosto de 1931 Um grupo de civis e militares assaltou dois quartéis (“Metralhadoras” e “Artilharia”, em Lisboa), prendendo os oficiais de serviço e apoderando-se de armas. As forças governamentais reagiram e dominaram a revolta que causou quatro dezenas de mortos.

18 de janeiro de 1934 Uma greve geral, com epicentro na Marinha Grande, motivou manifestações que foram reprimidas. Os autores do descarrilamento de um comboio no apeadeiro de Santa Iria foram “inaugurar” a prisão do Tarrafal.

10 de setembro de 1935 Tentativa de revolta não-revolucionária e de inspiração direitista, organizada pelo partido nacional-sindicalista “Camisas azuis”, cujo chefe era Rolão Preto, opositor de Salazar. As ações previstas (uma delas era tomar o navio “Bartolomeu Dias”) falharam todas e muitos implicados foram presos.

9 de setembro de 1936 Sublevaram-se as tripulações de dois navios de guerra (“Afonso de Albuquerque” e “Dão”) que procuraram dirigir-se para Espanha, a fim de combaterem junto dos nacionalistas espanhóis. Ao descerem o Tejo com essa intenção, foram surpreendidos na barra por tiroteio. Os dois navios foram atingidos e a revolta foi sufocada.

4 de julho de 1937 Atentado bombista contra Salazar, por anarcossindicalistas. Explosão num coletor sob o passeio, a poucos metros do lugar em que o chefe do governo saía para ir à missa, não o atingiu.

11 de outubro de 1946 Revolta da Mealhada, levada a cabo por oficiais milicianos licenciados e demitidos do exército. Contra-ataque de autoridades e efetivos da 2ª Região Militar de Coimbra determinaram a rendição dos sublevados.

12 de março de 1959 No rescaldo das eleições presidenciais de 1958, um movimento militar independente que apoiara o candidato Humberto Delgado preparou uma revolta militar que, devido à polícia política, não passou da fase preparatória, sendo detidos os principais implicados.

22 de janeiro de 1961 Assalto ao navio “Santa Maria” por revolucionários capitaneados por Henrique Galvão. Foi um movimento de grande impacto internacional, não resultou em termos práticos, mas assustou o regime então vigente. O assalto terminou com a devolução do navio e asilo político do Brasil ao grupo de assaltantes.

1 de janeiro de 1962 Um grupo de militares e civis assaltou o quartel de infantaria 3, em Beja. O assalto foi organizado pelo capitão Varela Gomes que acabou detido e condenado no Tribunal Plenário a dez anos de prisão. Outros elementos foram julgados (e condenados) à revelia, conseguindo a maior parte asilo político em vários países, nomeadamente em Cuba e no Brasil.

16 de março de 1973 Há quem considere ter sido este um ato experimental para determinar os parâmetros necessários à eclosão de um grande ataque militar, em Lisboa. E assim foi. Depois do “falhanço” deste golpe, o próximo viria a resultar, finalmente, após todas as tentativas anteriores. Encarregou-se dele o Movimento das Forças Armadas que viria a popularizar-se como MFA.

O que foi o 25 de Abril de 1974

Em Lisboa, numa manhã suave de quinta-feira, quando as gaivotas sobrevoavam o rio Tejo, o Terreiro do Paço viu-se invadido por carros militares cheios de gente fardada e armada. Quem vinha para os seus empregos ou estancou, para ver o que aquilo era e a que se destinava, ou, então, contornou a praça e seguiu por outras ruas. Mas, em certos lugares, o aparato militar era o mesmo e as artérias estavam cortadas ao trânsito.

Quem vivia na parte mais alta da cidade ou na periferia, sem saber ao certo o que se passava, admirou-se porque as ruas estavam pouco mais que desertas, sobretudo de viaturas que, em dia normal, constituíam engarrafamentos e uma série de situações de “pára-arranca” das horas de ponta.

A ideia de que se tratava de um “golpe de Estado” começou a pairar quando alguns começaram a sugerir que a rádio só transmitia música e que tinha havido a leitura de um comunicado de um tal Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, sugerindo que as pessoas ficassem em casa a ouvir as mensagens que iriam ser transmitidas durante o dia.

Soube-se então que fora precisamente a rádio a dar a senha para o arranque das forças militares em direção ao Terreiro do Paço e ao Quartel do Carmo, neste caso já com as pessoas na rua a vitoriar o golpe que, em poucas horas, se transformaria na “revolução dos cravos” como ainda hoje, cinquenta anos depois, muita gente a designa. E foi nesse quartel da GNR, onde os assustados elementos do governo de Marcelo Caetano tinham recolhido, que houve a rendição destes e a passagem de testemunho para a condução dos novos desígnios do país.

A adesão popular motivou uma “revolução de cravos” sem sangue

O movimento alastrou à totalidade do país. Apenas em poucos casos alguns tentaram reagir, sem sucesso. O povo tinha aderido à revolução.

A formação de uma Junta de Salvação Nacional abriu portas para um país destinado a receber e albergar um valor sagrado: a Democracia.

O general Spínola, autor de um livro preponderante para a compreensão do que depois se passou (“Portugal e o Futuro”) tornou-se o primeiro presidente da nova República (a 3ª) e o professor Palma Carlos foi indicado como primeiro-ministro. A partir daí, a revolução seguiu o seu rumo, até aos dias de hoje, quando foi eleito pelos portugueses o seu 24º Governo Constitucional.

Houve coisas que aconteceram a partir desse dia e que nos libertaram: a extinção da polícia política e da censura, a dignidade e autonomia do poder local, o fim da guerra colonial, a descolonização, a instituição das eleições livres e o aparecimento de partidos políticos, a abertura ao mundo, em especial a adesão à UE e a elaboração da nova Constituição política ainda em vigor.

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