As flores de abril não são amarelas e evanescentes como as do início da primavera; são vermelhas, duradouras. Aquelas anunciam a esperança, estas os frutos que ganham forma e expressão.
Lembro tão bem a manhã de uma quinta-feira de abril no liceu, o extravasar da esperança dos tempos seguintes. Até os dicionários pareciam verter palavras amordaçadas, que nunca tínhamos ouvido.
As utopias de abril, o rejuvenescer de um povo triste que fazia da saudade o seu mantra e de cada terra um cais de partida, que enterrava os seus mortos vindos da guerra na manhã da vida, demoraram a cumprir.
Quantos países poderão orgulhar-se, na emergência desta Pandemia, de universalizarem o acesso aos serviços de saúde aos emigrantes, aos clandestinos e aos mais desfavorecidos que aqui vivem.
Recentemente, um organismo sueco alcandorou o nosso sistema democrático ao sétimo lugar num universo de cerca de duzentos países. Este galardão, que não é autoproclamação, deve honrar-nos incluindo os partidos políticos que são a essência da democracia. Deve honrar os cidadãos pela diversidade de pensamento, as associações de bem-fazer e as empresas que prestigiam Portugal no exterior. Deve honrar os nossos centros de investigação e de ciência, a nossa indústria e a inovação, as universidades e as escolas em geral, os serviços de saúde e de justiça, as infra estruturas que mudaram a face do país.
Alguns perderam a noção do Portugal antes de abril. Por isso, idealizam personalidades e um estilo de vida, quase medievo, de que se esqueceram e outros de que apenas ouviram falar.
Se têm dúvidas deem um saltinho ao museu do Aljube, e proximamente ao Forte de Peniche; analisem estatísticas daquele tempo que nos classificam como um dos países mais atrasados e miseráveis da Europa.
Apesar disso, não esqueço que houve impactos negativos. Jamais esquecerei as dificuldades de muitos portugueses provenientes de África que viveram a revelar-se, pela sua capacidade de trabalho e iniciativa, grande contributo para o desenvolvimento de Portugal.
É na diversidade de pensamento, valor inalienável de abril, que deveremos encontrar o caminho fazendo a síntese das melhores ideias e iniciativas sempre ao serviço do bem comum e do prestígio do país.
De um país isolado, periférico que entrava de cabeça baixa na assembleia da ONU passamos a ter voz e respeito internacional.
Agostinho da Silva entendia que Portugal não é um país mas uma ideia para espalhar pelo mundo. O que parecia um adorno literário faz hoje sentido.
No dizer de Pessoa cumpriu-se o Império mas falta cumprir Portugal. E falta cumprir abril na plenitude por ser um desafio de todos os dias.