Segundo o Portal da Queixa, as principais reclamações prendem-se com “contratos forçados, transações não autorizadas e reembolsos não recebidos”, sobretudo por familiares dos idosos.
Os burlões usam esquemas cada vez mais sofisticados, para ganhar confiança e depois agir.
Segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), a maior percentagem de vítimas está entre os 65 e os 75 anos. Coimbra, Santarém, Aveiro, Leiria e Viseu são os distritos onde se registaram mais crimes de burlas contra idosos, segundo dados da GNR.
Desde o início do ano, o Portal da Queixa revela que já recebeu “249 reclamações sobre alegadas burlas praticadas a seniores (com mais de 65 anos), um crescimento de 5,5% em comparação com o período homólogo, onde se registaram 236 ocorrências”.
Entre os principais motivos das reclamações – que na maioria são registadas pelos familiares dos idosos lesados -, estão os reembolsos não recebidos, com uma fatia de 55% das queixas. Segue-se a transação não autorizada ou desconhecida, motivo que deu origem a 16,1% das denúncias.
O contrato forçado foi o tema reportado em 13,6% das denúncias em contexto de burla. Em 10% dos casos foi relatado um esquema de fraude através da subscrição de serviços.
Já 2,9% das queixas apontaram como causa a burla online, com recurso a um site/página clonada e 2,4% dos lesados relataram casos de publicidade falsa.
Dos casos chegados ao Portal da Queixa, destacam-se em volume, as abordagens a idosos que resultam em contratos alegadamente forçados, na área da saúde.
É o caso de Ana Sofia, filha de um reformado com 82 anos que foi abordado por uma empresa de aparelhos auditivos com sede em Leiria. “O que acontece é que foi aliciado a adquirir o aparelho auditivo em que o pagamento é feito em 48 meses e o valor são mais de 6000€ com os juros. Estas pessoas aliciam idosos com rendimentos baixos a fazerem créditos absurdos de valores elevados”.
O mesmo esquema comercial – agressivo e forçado – foi reportado por outra pessoa, Zeferino Nunes, cuja queixa denuncia a falta de transparência e atraso no reembolso do aparelho auditivo devolvido.
O esquema e as reclamações sobre empresas de aparelhos ou próteses auditivas repetem-se. Bárbara Coelho relata o mesmo problema. O pai fez a compra, a filha rescindiu o contrato e devolveu o produto, mas o reembolso nunca é processado. “Já são várias as tentativas de contacto, está em causa um valor considerável de dinheiro, foram cumpridos da nossa parte todos os passos e requisitos para devolução e reembolso, contudo sem qualquer feedback. Sentimo-nos claramente enganados e teve impacto não só financeiro como psicológico no meu pai”.
Já Leonor Oliveira descreve como “irregular” a abordagem feita aos pais por uma empresa de água: “Após um telefonema a aliciar testes gratuitos de água, um “agente” deslocou-se a casa dos meus pais (86 e 89 anos) para montar um filtro de água gigante. Mais irregular ainda, o agente deslocou-se ao multibanco com o meu pai para, supõe-se, inteirar-se do seu IBAN. Empresa que se aproveita de idosos incautos com a treta de sustentabilidade”.