Em 1921 Guerra Junqueiro publicou o livro Prosas Dispersas, precisamente trinta e seis anos depois de ter publicado A Velhice do Padre Eterno. Numa nota ao primeiro texto das Prosas, o Sacré Coeur, escreveu: “Este artigo foi escrito em 1888. Corrigi-o, creio, em 1904 e publiquei-o depois na Alma Nacional. Agora emendei-o de novo, eliminando várias passagens, umas inúteis ou deficientes, outras condenadas pelo meu espírito.
Eu tenho sido, devo declará-lo, muito injusto com a Igreja Católica. A Velhice do Padre Eterno, é um livro da mocidade. Não o escreveria já aos quarenta anos. Animou-o e ditou-o o meu espírito cristão, mas cheio ainda de um racionalismo desvairador, um racionalismo de ignorância, estreito e superficial. Contendo belas coisas, é um livro mau, e muitas vezes abominável. Há na grandiosa história do catolicismo páginas de horror, mas a Igreja com os Evangelhos cristianizou salvou o mundo. No catolicismo existem absurdos, mas no âmago da sua doutrina resplandecem verdades fundamentais, verdades eternas, as verdades de Deus. A força moral do catolicismo é hoje imensa, não pode negar-se”.
Recomendo aos meus leitores que leiam este artigo de sete páginas, parte integrante do livro. É uma descrição de uma ida sua a esta igreja de Paris, num domingo do mês de junho. Nesse dia havia uma procissão àquela que é uma igreja mundialmente conhecida. Ele incorporou-se no préstito logo a seguir aos “pequerruchos” de seis a oito anos, que seguiam no final. Cito-o de novo no mesmo texto: “a igreja vive ainda e viverá, senti-o nessa hora, do cristianismo eterno que tem dentro”.
O meu interesse por tudo o que a Guerra Junqueiro diz respeito resulta do facto de a sua bisavó materna, Francisca Morgado Sanches, ser irmã de José Morgado Sanches que casou em Castelo Branco, Mogadouro com Maria Josefa Pinto e que foram meus tetravós paternos.
A Velhice do Padre Eterno foi o livro que o tornou o grande poeta que todos reconhecem que foi. A polémica sobre o conteúdo do livro durou muito tempo, mesmo para lá da sua morte.
Entre 1866 e 1868 foi para Coimbra onde, durante dois anos, estudou Teologia o que lhe permitiria ser padre. Provavelmente não era essa a sua intenção e perdeu esses dois anos. É provável que a falta de aproveitamento se tivesse devido ao facto de ele já ter decidido não ser padre, mas licenciar-se em Direito. Não me admira que os pais o mandassem estudar com o objetivo de que fosse padre. Nos seus antepassados havia vários padres, em especial do lado da sua mãe. Nas famílias tradicionais de Trás-os-Montes, o Seminário era sempre o destino de um dos filhos. No seu caso, sendo filho único, esse papel calhou-lhe, naturalmente. É provável que se dedicasse pouco ao estudo porque teria como objetivo continuar na Universidade, mas no curso de Direito. A falta de resultados positivos provavelmente o ajudou a justificar ao seu pai a sua decisão de não continuar a estudar Teologia. Esta ideia pode justificar-se pelo facto de nos cinco anos seguintes ter tido sempre aproveitamento e ter concluído o curso de Direito em cinco anos. Só há cerca de dez anos me interessei por ele, enquanto pessoa e enquanto escritor. Ando há cerca de vinte e cinco anos investigando, no sentido de escrever a história da minha família. Espero tê-la concluída dentro de um ano. Não posso afirmar convictamente que isso acontecerá, porque uma árvore genealógica sabemos quando se começa, mas não sabemos quando se acaba.