Sexta-feira, 18 de Abril de 2025
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Paulo Reis Mourão
Paulo Reis Mourão
Economista e Professor Universitário na Universidade do Minho. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Ordem e desordem no Turismo

O turismo é uma das grandes conquistas do século XX! Antes, só eram turistas dois grupos de pessoas – os que pela sua riqueza detinham rendimentos que possibilitavam a saída dos seus locais para visitar outros espaços, sendo a distância percorrida proporcional ao rendimento implícito, e os que tinham a capacidade única de se maravilharem com a renovação natural nas suas terras de origem que, dado que não saiam delas, de vida.

Não incluo aqui os emigrantes que saíam para trabalhar e para lá viver.

O turismo, seja de veraneio, cultural, religioso, natural ou de outra natureza tornou-se uma possibilidade para muitas pessoas na generalidade dos países ocidentais. Daí, a conquista civilizacional subjacente. Visitar e regressar faz-nos maiores. Em muitos casos, vimos renovados, com ideias renovadas sobre o que está à nossa volta e com vontade de fazer melhor as coisas que temos de fazer. Mas também o turismo recebido nos coloca numa posição privilegiada. Ao ver um, dois, ou uma dezena de turistas a espreitarem para um arbusto, para uma esquina, ou para um pormenor num espaço habitualmente percorrido e tradicionalmente negligenciado pela nossa atenção, percebemos que afinal aquele arbusto ou aquele pormenor têm valor. E também nós, à conta dos turistas de fora, nos tornamos turistas de dentro, valorizando aquilo que existe à nossa volta.

Poderia aqui invocar as dimensões já muito comentadas dos fluxos monetários e económicos que fazem do turismo um setor vital da nossa economia. Por contas redondas, o turismo vale em Portugal mais de vinte mil milhões de euros só em termos de faturação oficial, o que permite que entrem mais de dois mil euros por ano por residente em Portugal. Acrescentando todo o conjunto de efeitos indiretos, assim como o respetivo multiplicador, facilmente compreendemos que sem turismo o nosso PIB diminuiria drasticamente. A pandemia, com quedas em redor dos 8% do PIB nacional, dá uma ideia de que o valor do turismo no PIB não anda muito distante dos 6 a 7%.

Foi publicado na Tourism Review International o trabalho em minha co-autoria (com Rui Costa e Márcio Martins) intitulado “Backpackers’ order and visit length in an urban world heritage destination: an analysis using ordered logit and linear models”. Nele mostramos que os turistas da cidade do Porto podem parecer baratas tontas quando observados em termos de percursos individuais mas, no fundo, cada um sabe o que quer visitar, para onde ir, o que gastar e como poupar a borracha das sapatilhas ou as bandeiradas dos táxis e dos transportes públicos. Turistas diferentes, com carteiras diferentes, com grupos diferentes, com idades diferentes, fazem percursos diferentes, gastam de modo diferente e visitam de modo diferente.

Cabe a cada cidade, a cada “sítio” turístico, otimizar a experiência do turista, tirando lucro para as terras e retribuindo com a exibição do melhor que cada local tem. Porque para a maioria dos turistas, mais importante do que o gasto, é o gosto da lembrança daquela visita vinte, trinta ou quarenta anos depois. E como se nota, os turistas tendem a ser mais generosos do que os residentes – quer na apreciação das cidades e das vilas, quer na gorjeta depois dos almoços e jantares.

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