Na Alemanha Hitler, em Itália Mussolini, Franco em Espanha e Salazar em Portugal.
Franco e Hitler eram militares tendo usado os títulos de Fuhrer e Generalíssimo, enquanto Benito Mussolini, usou o titulo de Duce. Todos usaram farda recorrendo a rituais e símbolos nazi-fascistas durante os seus consulados.
Contrariamente, Salazar nunca usou farda e não se atribuiu qualquer título que o distinguisse e elevasse como chefe. O velho ditador não abdicou do múnus de professor universitário, não desceu da sua cátedra em Finanças e não deixou de se assumir como um intelectual. De tal sorte que na morte usou as vestes de universitário e não qualquer farda.
Faz sentido chamar a atenção desta diferença de posicionamento, sem o ilibar da despreocupação com o desenvolvimento e a industrialização do país. Quis um país rural, bem comportado, alinhado com a Igreja Católica de que sempre se serviu. Ferida pelo anticlericalismo da I Republica e no século XIX com o confisco de bens, a Igreja não regateou esforços para o manter no poder e divulgar a sua doutrina.
Hitler teve em vista a hegemonia e a expansão da Alemanha com o objetivo de subjugar toda a Europa, Franco aceitou que os economistas do Opus Dei, uma vez livre do regime de autarcia, se encarregassem do desenvolvimento económico de Espanha e Salazar foi ficando pelos planos de fomento e a construção de uma vasta rede de obras públicas ao longo de décadas.
Salazar disse um dia que gostava de ter sido primeiro-ministro de um rei absoluto. Como a monarquia e o absolutismo já tinham feito o seu percurso histórico, limitou-se a ser o primeiro ministro de três presidentes da república que não passaram de figuras de segundo plano, diria mesmo de figuras de palha; Carmona permitiu a Salazar que fizesse tudo quanto entendia, Américo Tomás não passou de um corta-fitas e Craveiro Lopes, talvez por falta de empatia, não se apresentou a segundo mandato por imposição de Salazar.
Curiosamente, em termos institucionais era presidente do Conselho de Ministros que raramente reunia. Alguém acreditará que Salazar chegava a estar mais de dois anos sem reunir o Conselho de Ministros. Lá dava as suas ordens, demitia os ministros com um bilhetinho de agradecimento, quando não interpretavam as suas políticas ou lhes parecia não serem leais.
Apesar de prezar a universidade e os títulos académicos, Salazar não deixou de perseguir vários professores como sucedeu com Bento de Jesus Caraça, Mário Silva, Rui Luís Gomes , Aniceto Monteiro, Miguel Valadares entre outros. Mesmo os clérigos desalinhados eram perseguidos como aconteceu com o bispo do Porto, António Ferreira Gomes, convidado a sair do país por um período de férias, impedindo-o de seguida de regressar. Foi um longo exílio de dez anos por causa de uma carta que escreveu a Salazar após a campanha de Humberto Delgado. Durante uma década o clérigo, homem de honra, vagueou por Tui, Vigo, Santiago de Compostela, Valência, Lourdes, Ciudad Rodrigo e Salamanca.
Uma década de exílio para o bispo, homem de grande dignidade e apodrecimento para o regime.