Mas também se entende por corrupção quando algum cidadão com cargos públicos recebe ‘a mais’ pelo exercício das suas funções ou quando no exercício das mesmas viciou o processo de decisão em favor de uma alternativa.
A corrupção na larga maioria dos casos é má. Porque assumimos que as leis cumpridas promovem o progresso da sociedade e porque assumimos que as maiorias (as assembleias) decidem melhor que as minorias ou as individualidades sozinhas. No entanto, a proliferação do fenómeno e a sua mensuração vêm mostrando que estas assunções não são assim tão evidentes para os nossos concidadãos nesta aldeia global. Geralmente, os países que tem índices de corrupção maiores são aqueles que consideram haver ‘bons corruptos’ em mais situações. Quem não tem um fascínio pelo lendário Robin Hood com o charme do Errol Flynn? Também preferimos o corrupto, o ladrão e o líder da favela que ‘rouba mas que faz’, que mata além mas edifica escolas aqui, que rouba em Bruxelas ou em Washington mas que aplica o capital em mais empregos cá. Por isso, a corrupção é maior nuns países do que noutros. Todos gostaríamos de ter um corrupto assim por vizinho – um cidadão simpático, com ou sem gravata, que ajuda os nossos pobres, que compõe o telhado das nossas igrejas e que até nos arranja umas consultas numas clínicas promissoras no estrangeiro. Para os outros a lei, para os nossos a tolerância. O problema é a medievalização do comportamento e dependermos o nosso desenvolvimento da consciência de indivíduos que, pouco a pouco, têm o monopólio do poder, da pressão, da segurança e da economia. Um dia, o agricultor cansa de engordar a galinha; noutro dia, descobrimos que aplicou milhões nas Seychelles e no fim do mês que, num desvario psíquico, matou políticos e deputados da oposição. Em última instância, a corrupção é e será sempre um problema moral. Porque só os problemas morais nos mostram que o que acontece no pouco também acontecerá no muito. E que os pecados veniais mais cedo ou mais tarde serão capitais.