Acredito que a Academia seja dos poucos projetos unificadores da vasta região transmontana e alto-duriense, que se estende dos contrafortes do Gerês no concelho de Montalegre à distante Miranda do Douro, a mais de duas centenas e meia de quilómetros, dividida em cerca de trinta municípios se incluirmos os do Douro sul.
Muitas vezes, o fio unificador da região dilui-se em bairrismos estéreis, em divisões inúteis quando, em boa verdade, os desafios mais difíceis são transversais a todo o território. Baixa densidade populacional, pouca atratividade para o investimento, emigração ancestral, envelhecimento da população e a distância cósmica do Terreiro do Paço que não abre mão de nenhuma das parcelas do poder centralista velho, que deitou ao abandono mais de setenta por cento do território nacional.
Felizmente que vão soprando ventos de mudança em domínios como a cultura e o turismo, sendo crescente o número de turistas que procuram na nossa região, a gastronomia, o lazer e as paisagens além de, também no plano político, ser hoje maior a sensibilidade para o desenvolvimento do Interior.
Para descrever Trás-os-Montes temos a tentação de que serão sempre suficientes os testemunhos de Torga, Guerra Junqueiro, Trindade Coelho, Bento da Cruz, Araújo Correia, Camilo Castelo Branco que também por aqui passou, Eça de Queiroz que escreveu sobre o Douro entre outros que já não estão entre nós.
Felizmente continuamos a ter Pires Cabral, Rentes de Carvalho, Francisco José Viegas, Dulce Cardoso além de outros escritores que com maior ou menor ligação ao berço aqui têm as suas raízes.
A coletânea de que falo tem as vozes do nosso tempo, de autores que deram o seu testemunho, que falam da nossa terra com os olhos e o coração. Que vibram com o berço mesmo os que estão longe e tiveram de emigrar por esta ou aquela razão.
Foi bom ler os seus testemunhos, as suas histórias que não obedecem a um fio unificador, tendo cada um dado a visão que lhe pareceu mais enriquecedora.
Talvez nesta diversidade resida a sua riqueza a que acrescerá sempre a das vozes que por esta ou aquela razão não fizeram parte, mas que integram o grande espaço cultural de Trás-os-Montes e o Douro.
A literatura, além das suas componentes de sonho e criatividade, é a voz imorredoura dos diversos tempos que cabem no conceito mais amplo de tempo quando se torna intemporal.
Da nossa região não falam apenas as vozes dos escritores, faltam as vozes da memória, falam os castros e as construções megalíticas, falam os castelos, as pontes romanas e medievais, falam os testemunhos dos numerosos povos que por aqui passaram.
Até as montanhas falam de nós através da voz do silêncio intemporal.
Parabéns a todos os participantes e aos coordenadores da coletânea, Assunção Morais, Odete Ferreira, Carla Guerreiro e Joaquim Aires que realizaram trabalho meritório.