Acossados pela pobreza de espírito, alguns pandilhas esquecem-se de colocar a máscara.
Na verdade, hoje assiste-se a uma outra pandemia – a da imbecilidade. Esta não dá mostras de abrandar e surge em qualquer esquina sustentada na poeira da estupidez, ignorância e na incúria.
Confrontamo-nos com espetáculos degradantes de pessoas em ajuntamentos, proliferação de folguedos, espécie de bebedeiras desencadeadoras de foguetórios mortíferos e as denúncias às autoridades destas festas clandestinas têm como consequências tirar uns nomes e passar umas multazecas tímidas em letras pouco carregadas. Enfim, coisa pouca, só para inglês ver…
Assim, grande parte desta população medíocre, esfrangalhada de valores e inconsciente, vai continuando indiferente à desgraça de muitos. É vê-la pimpona de máscara no queixo ou no cotovelo, impante de bazófia, desafiando tudo e todos.
Há tempos, andar nas ruas apenas constituía perigo pelos assaltos às carteiras, telemóveis ou assédios à moral, com piropos brejeiros a jovens de boa figura, ou galanteios a viúvas de boa aparência e bons rendimentos.
O perigo agora é outro e tem a ver com as gotículas impregnadas de coronavírus que uns meliantes e gabirus despejam à passagem de pessoas organizadas, ordeiras e civilizadas.
Andamos cheios de medo, vivemos em combate permanente de sobrevivência. O medo só é combatido se soubermos confinar no outro. Temos de aceitar a travessia que a viagem com o outro constitui e resta-nos, se é possível, escolher contra o que nos faz tremer de apreensão e nos instala na instabilidade e no pânico. No fundo, as forças de vida que nos ligam ao Mundo e aos outros.
Temos de saber que para além de nós há solidões e sofrimentos amalgamados e mãos abandonadas, rostos sem lágrimas, instantes parados, nuvens sem céu que tapam a lua. Há raivas e tempestades.
E tudo isto porque vivemos na negritude do medo, medo do vizinho e de quem passa na rua sem civismo e sem máscara quando a deveria usar. Temos medo porque achamos que há gentalha que nos quer roubar a força da liberdade de sonharmos com o dia de amanhã.
Há dias morreu de Covid-19 uma bela pastora. Era ardente de beleza, de sentimentos, cândida de ternuras para as suas ovelhas e dois cães lobeiros. Morreu porque o seu namorado, infantilmente se deixou apanhar nas malhas da pandemia e na paixão inflamada de um beijo, a linda pastora se enredou na teia sombria da morte estúpida e prematura.
Há dias saíam de um restaurante cerca de 20 pessoas, sem máscara e a aproximação corporal denunciava total irresponsabilidade e desrespeito pelos princípios básicos de sanidade pública. Este é um caso entre tantos semelhantes que não conseguimos vislumbrar. Exemplos que martirizam pessoas de bem e civilizadas. Onde anda a polícia?