Sábado, 7 de Dezembro de 2024
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Adérito Silveira
Adérito Silveira
Maestro do Coral da Cidade de Vila Real. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Espaço Miguel Torga: Um espaço de alta cultura

S. Martinho de Anta tem no Espaço Miguel Torga uma referência da boa cultura que se faz em Portugal.

Por ali têm passado grandes nomes da música – e não só – que dão à vila de Miguel Torga um perfume deveras agradável pela frequência de acontecimentos culturais de qualidade superior que ali decorrem.

Neste último sábado, pelas 18 horas, o Espaço Miguel Torga foi brindado com um espetáculo inolvidável, tendo a presença do Maestro António Vitorino de Almeida e o Quinteto de Sopros da Banda Sinfónica Portuguesa sob a direção do consagrado maestro Francisco Ferreira. A sala estava lotada. Os espaços laterias também eles preenchidos com pessoas em pé, simplesmente coladas umas às outras. O silêncio era de ouro porque o que a assistência ouvia era imperdível e único e qualquer ruído seria imperdoável.
E o espetáculo começou com António Vitorino de Almeida, tocando no piano uma peça arrebatadora, galopante de energia ao ritmo da obra…sons em dinâmicas galvanizantes, magistrais ao mesmo tempo. Como é possível um pianista que com quase 83 anos consegue ir buscar à música uma força avassaladora, quase hercúlea? Só um artista superdotado consegue a proeza dessa fulgurância demolidora. Um pianista que cria e recria atmosferas que levam os ouvintes a quedarem-se em absoluto e a fecharem os olhos mergulhados em mundos oníricos e desconhecidos…

E logo veio o Quinteto de Sopros da Banda Sinfónica Portuguesa que interpretou um programa com obras de Jean Françaix, António Vitorino de Almeida e Denes Agay.
A execução deste quinteto foi marcada pelo brilhantismo artístico de todos os elementos. A técnica e interpretação demonstradas foi o sinal absoluto de que em Portugal temos músicos de craveira internacional, artistas que se transfiguram em fluxos inquebrantáveis de arte, arte da mais pura e nobre sonoridade. Todos eles foram excelentes, conferindo clímaxes de carga inebriante. Eles conseguiram que o que tocaram se ouvisse e que tudo se valorizasse em vagas sucessivas de ínfimos pianíssimos às mais avassaladoras explosões de som…

Seria injusto não revelar os nomes dos elementos que compõem o quinteto: Herlander Sousa, na flauta transversal; Filipa Vinhas, no oboé; Nuno Sousa, no clarinete; Pedro Rodrigues em fagote e Hélder Vales, na trompa.

Num espetáculo tão generoso e imaginativo, tão caloroso de cortar a respiração, tão dúctil e apaixonado, o público só teve de sair da sala de alma cheia e lavada, coração imbuído de sensações que as palavras não podiam nem sabiam transmitir. A música é isto mesmo: ela cria emoções e deleites, cria pequenas felicidades e estados de alma que vão alimentando e justificando a nossa vontade de viver… Ela cria assomos de paixão que as palavras não conseguem dizer e as mãos não são capazes de escrever.

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