Por ali têm passado grandes nomes da música – e não só – que dão à vila de Miguel Torga um perfume deveras agradável pela frequência de acontecimentos culturais de qualidade superior que ali decorrem.
Neste último sábado, pelas 18 horas, o Espaço Miguel Torga foi brindado com um espetáculo inolvidável, tendo a presença do Maestro António Vitorino de Almeida e o Quinteto de Sopros da Banda Sinfónica Portuguesa sob a direção do consagrado maestro Francisco Ferreira. A sala estava lotada. Os espaços laterias também eles preenchidos com pessoas em pé, simplesmente coladas umas às outras. O silêncio era de ouro porque o que a assistência ouvia era imperdível e único e qualquer ruído seria imperdoável.
E o espetáculo começou com António Vitorino de Almeida, tocando no piano uma peça arrebatadora, galopante de energia ao ritmo da obra…sons em dinâmicas galvanizantes, magistrais ao mesmo tempo. Como é possível um pianista que com quase 83 anos consegue ir buscar à música uma força avassaladora, quase hercúlea? Só um artista superdotado consegue a proeza dessa fulgurância demolidora. Um pianista que cria e recria atmosferas que levam os ouvintes a quedarem-se em absoluto e a fecharem os olhos mergulhados em mundos oníricos e desconhecidos…
E logo veio o Quinteto de Sopros da Banda Sinfónica Portuguesa que interpretou um programa com obras de Jean Françaix, António Vitorino de Almeida e Denes Agay.
A execução deste quinteto foi marcada pelo brilhantismo artístico de todos os elementos. A técnica e interpretação demonstradas foi o sinal absoluto de que em Portugal temos músicos de craveira internacional, artistas que se transfiguram em fluxos inquebrantáveis de arte, arte da mais pura e nobre sonoridade. Todos eles foram excelentes, conferindo clímaxes de carga inebriante. Eles conseguiram que o que tocaram se ouvisse e que tudo se valorizasse em vagas sucessivas de ínfimos pianíssimos às mais avassaladoras explosões de som…
Seria injusto não revelar os nomes dos elementos que compõem o quinteto: Herlander Sousa, na flauta transversal; Filipa Vinhas, no oboé; Nuno Sousa, no clarinete; Pedro Rodrigues em fagote e Hélder Vales, na trompa.
Num espetáculo tão generoso e imaginativo, tão caloroso de cortar a respiração, tão dúctil e apaixonado, o público só teve de sair da sala de alma cheia e lavada, coração imbuído de sensações que as palavras não podiam nem sabiam transmitir. A música é isto mesmo: ela cria emoções e deleites, cria pequenas felicidades e estados de alma que vão alimentando e justificando a nossa vontade de viver… Ela cria assomos de paixão que as palavras não conseguem dizer e as mãos não são capazes de escrever.