O nascimento de Cristo, que culminou com a morte por crucificação, é o acontecimento mais notável do mundo antigo, independentemente da fé.
A partir do ano 325 – doze anos após o édito de Milão de Constantino – no I concilio de Niceia, o I concilio ecuménico da Igreja, fez-se a síntese das grandes transformações verificadas nos dois ou três séculos anteriores. As bases do novo mundo de então assentam na confluência dos fundamentos mais sólidos da cultura europeia: confluem a cultura e ensinamentos da Antiguidade grega e o judaísmo, que mudaram o seu registo e características; o mundo antigo converteu-se em greco-romano e o judeu em judaico-cristão.
A expansão e ensinamentos do cristianismo têm por base o simbolismo e a historicidade da estrada de Damasco, quando da conversão de Paulo, pedra angular na expansão da doutrina cristã.
Entre nós merece destaque a obra “S. Paulo” de Teixeira de Pascoaes, que descreve como o iluminado da estrada de Damasco denunciou a sociedade do seu tempo, assente na violência de classe, o imperialismo e a escravatura.
Fica-nos, por vezes, a sensação de que o mundo de hoje não mudou assim tanto, porque continuamos confrontados com a escolha entre Cristo e Barrabás; entre a tirania e a democracia, entre o imperialismo e a convergência solidária entre povos; confrontados com a escolha entre a vida humana, enquanto valor absoluto e a sua relativização devido ao sobrepovoamento do planeta e às desigualdades entre países; confrontados entre a abundância de uns e a fome generalizada de outros em várias regiões do globo.
O simbolismo da queda de Paulo do cavalo a caminho de Damasco talvez se adapte ao tempo que estamos a viver, em que a humanidade de um momento para o outro se viu de forma surpreendente – ou talvez não – confrontada com uma crise sem precedentes, com a destruição das economias dos países, das grandes empresas e da vida das famílias.
Valerá a pena repensar os atuais bases em que assenta a economia, o mundo financeiro e os paradigmas de organização política e social. De um lado emergirá de forma recrudescida uma economia baseada na indiferença pelo meio ambiente e os direitos dos cidadãos tendo como protagonistas a China e os Estados Unidos, a Índia e o Brasil, estes últimos governados por autocracias eleitorais.
Será o momento de dirigir a ciência para a economia verde, antecipando os prazos de descarbonização com a aposta nas tecnologias que respeitem o ambiente e a saúde. Caberá à EU democrática desempenhar este papel inovador, demonstrando a inutilidade dos combustíveis fosseis e as novas oportunidades de desenvolvimento e recuperação das economias assentes neste modelo inovador; será uma forma de antecipar o futuro e o novo plano Marshall (?).