Domingo, 13 de Outubro de 2024
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Adérito Silveira
Adérito Silveira
Maestro do Coral da Cidade de Vila Real. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Na fé está a luz da esperança

As pandemias nas suas variantes de vírus, ao longo dos tempos, têm dizimado mais gente do que as mortes causadas pelo terror de todas as guerras.

As misérias da pobreza e os excessos das extravagâncias humanas contribuem para que o planeta se exponha e comprometa a sobrevivência da espécie humana. Há histórias de vírus que são narrativas de uma fé inabalável a um santo protetor.

Precisamos de acontecimentos que transfigurem os momentos de desânimo em incitamentos para voltarmos a caminhar na alegria serena e triunfante da vida.Por volta de 1877, na freguesia de Mateus, grassou nos milharais uma epidemia provocada por um verme que os destruía por completo.

O povo implorou a frei Vicente que rogasse a Deus, invocando a Sua misericórdia.
E o frei orou, levantando a Cruz de Cristo, lançando com as duas mãos a bênção em diferentes direções. A Voz era profunda, profética. Os olhares contemplativos abarcavam todo o espaço circundante. As orações foram escutadas e o verme desapareceu, cessando o mal nesse ano e nos anos seguintes.

Ali mesmo o frei foi venerado pela população que o olhava na grandeza da sua alma e na força da sua fé.

Nesse tempo, Mateus era um lugar com casebres de lascas e granito, no entanto a crença de cada habitante era modelada de uma alma poética enobrecida pela música e porque à volta da aldeia havia campos de vinha e searas, terras despidas, capelinhas perdidas e luares aconchegantes.

Ali se descobria a grandeza do planeta porque se sentia de perto o cheiro da terra, o infinito do céu e o povo se plasmava com os sinos a anunciarem a morte de alguém ou o chamamento para a missa ou batizado ou mesmo para enterro de bebé.

E romperam danças com as raparigas a deixarem-se tocar ao som de uma valsa por músicos da banda, fingindo os rapazes tropeçar para nelas caírem de corpo inteiro.
Os mais velhos diziam que nunca viram tanta alegria … o baile prolongou-se até que os galos anunciassem o romper da aurora… algumas moças arfavam na respiração do cansaço e da felicidade quem não tinha bailador saía do largo à espera de um afago protetor da mãe que andava sempre por perto na ronda subtil da vigilância.

Depois do baile, tudo ficou silenciado e a Natureza parecia imbuída de uma luz redentora. Os primeiros alvores surgiram num céu que se apresentava limpo. Os músicos recolheram as suas casas. Com a força do toque, alguns instrumentos ficaram maltratados… O bombo foi o mais sacrificado, ficando a pele estilhaçada pela pancadaria arrebatada do tocador. As palhetas dos clarinetes ficaram desfeitas pela força da pressão dos lábios e da vibração da língua. A alegria transbordante a isso contribuiu… E a fé ofereceu a chama que alimentou a vida interior de cada um.

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