O trabalho da CI foi acompanhado com muito interesse. Os casos relatados na apresentação do trabalho desenvolvido criaram uma expectativa a todos sobre o que aconteceria depois.
É natural a estupefação de muitos quando assistiram à Conferência de Imprensa em que D. José Ornelas apresentou as conclusões e o caminho a seguir. Estupefação e desilusão. Não estranhei quando ouvi o Dr. Daniel Sampaio evocar na Antena 1 o poema de Sofia de Mello Breyner Andersen que Francisco Fanhais musicou – “Vemos, ouvimos e lemos/Não podemos ignorar”. E ocorreu-me ser esta uma das várias canções que criaram no espírito de muitos portugueses a ânsia por um país livre e democrático. Nas palavras do porta-vos da CEP – nem parecia o antigo Bispo de Setúbal – depressa se encontrou um apoio não às vítimas, de que tanto precisam, mas aos abusadores, um alijar de responsabilidades para se encontrarem soluções de apoio psicológico e psiquiátrico aos que ousaram falar, passados vários anos, do que sofreram nas situações em que se viram envolvidos, assim como uma atitude defensiva e não pró-ativa suspendendo abusadores, clérigos ou leigos, ainda em atividade na Igreja. Suspender não é condenar. Laborinho Lúcio, membro da CI e ex-Ministro da Justiça foi levado a concluir, em sequência às afirmações havidas ali, que «a confiança das vítimas está, nesta altura, muito abalada», vítimas que deram voz ao silêncio. Passados anos, muitos, apelaram a que não se ignorasse. E não esquecemos que a Igreja Católica é uma instituição que é referência da civilização europeia.
Felizmente, nem todos se deixaram enlear pelos medos, nem encurralar na redoma que, tantas vezes, separa as hierarquias da realidade nua e crua da sua comunidade. E foram em frente. Évora e Angra do Heroísmo não hesitaram. Deram um importante contributo para que “nada possa apagar o concerto dos gritos”, que não podemos ignorar. Afinal, Igreja somos todos nós e, recorde-se, em ano de Sínodo que o Papa Francisco quis que se construísse em comunidade.