Como se vê nesta edição, empresas como a Faurécia (Bragança) ou a Continental (Vila Real) reportaram Volumes de Negócios inferiores aos do período anterior. A estas empresas (do ramo dos componentes do setor automóvel) junta-se a Vale de São Martinho e a Dourogás como empresas do Top10 com diminuição do valor da atividade. Ainda assim, observa-se uma quase repetição dos residentes no Top10 em relação à configuração anterior. Destaca-se aqui o exemplo da MCoutinho, com a variação proporcional mais significativa. Se estes movimentos tiverem continuidade futura, podemos estar perante aquilo que se denomina de cristalização do valor dos setores intermédios (no caso, na fileira automóvel), levando a que o produto final seja muito mais caro/valorizado que o valor acrescentado atribuído aos níveis intermédios, eventualmente devido à concorrência de mercados internacionais. Até que ponto esta deterioração da matéria contabilística contagiará a vida das famílias da região vai depender de vários fatores, nomeadamente a relevância efetiva que as grandes empresas têm nos concelhos onde residem enquanto sede, mas também da capacidade endógena destes locais em absorverem choques locais no emprego e nos retornos distribuídos.
Sem grandes surpresas, os Resultados Líquidos acompanham a evolução genérica do Volume de Negócios, comprovando a exposição destas empresas aos movimentos de procura final. Além da já citada Continental, o ano transato não fica famoso para empresas como a Casa da Fonte Pequena (Peso da Régua) ou para a Reconco (Bragança). Tirando a Continental, que cimentou o movimento de redução de trabalhadores, as outras duas empresas aumentaram, inclusive, o número de efetivos. Por um lado, exprimem um sentido especial de responsabilidade social, por outro, será importante que a contratação traga acréscimos de produtividade, de valor e, finalmente, de posicionamento estratégico. Entra também aqui uma chamada de atenção para a necessidade de escrutínio da qualidade contratada em todas as empresas do ranking, nomeadamente a qualidade da mão de obra, inclusive da imigrante. Por uma via, a contratação de estrangeiros revela que a região não está capaz de fornecer residentes para as necessidades do tecido empresarial, mas, por outra visão, a contratação de mão de obra imigrante obriga a perceber a qualificação da mesma, a capacidade de acolhimento das famílias destes colaboradores e a capacidade de promoção salarial implícita. Só assim todos ficarão a ganhar e evitar-se-á o congelamento dos salários reais dos trabalhadores da região, situações disfuncionais de imigração já conhecidas nas áreas metropolitanas, bem como diversos tipos de estigmatização no local de trabalho a evitar de todo.
Finalmente, a coluna da evolução dos Resultados Líquidos é deveras preocupante. Assemelha-se a olharmos para as pautas dos melhores alunos e muitos deles terem tirado notas negativas! Em concreto, muitas destas empresas (ditas grandes para a realidade transmontana) apresentaram evoluções profundamente negativas do seu resultado líquido, isto num ano em que vários organismos calcularam uma taxa de crescimento do PIB nacional entre 2,5% e 3,2%. Portanto, muitas grandes transmontanas andaram em contraciclo – o que deve merecer uma profunda reflexão pelos seus gestores e diretores.
Em conclusão, tal comportamento não abona, de todo, ao desenvolvimento da economia regional.