Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024
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Mário Lisboa
Mário Lisboa
Tenente-Coronel da Força Aérea. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

No meu tempo era assim

DE QUANDO EM VEZ...

Levantava-se da cama à 7h30 e, na minha casa, situada na Rua dos Vasos, que começava no Largo do Cano, talvez porque nas sacadas havia esses recipientes com flores até ao fim da rua, o cheiro das plantas era a alegria das senhoras que as alimentavam não só com água mas também com os seus sorrisos abertos e felizes. Eram assim os residentes na Rua dos Vasos, que continuaram ao longo dos anos a manter o mesmo estatuto de vivência.

Voltando às 7h45, do dia 1 de outubro de 1950, a minha mãe, a Tia Casimira, como era carinhosamente conhecida em Vila Real, obrigava-me a comer um caldo de cebola e, só depois é que tomava o café com leite, antes de ir para as aulas no Liceu Camilo Castelo Branco. Estas aulas decorriam durante a parte da manhã até às 13h00.

O meu itinerário na ida para o Liceu passava pela Rua Direita, já com muito movimento, pois, para além das maravilhosas casas comerciais, existiam os Bombeiros da Cruz Branca e os Correios. Ainda neste contexto, o Liceu era liderado pelo Reitor, Dr. Martinho Vaz Pires, que foi talvez o melhor professor do ensino secundário que alguma vez tive.

Foi meu professor de alemão no 6º e 7º ano e ensinava como só ele sabia fazer. O Dr. Martinho Vaz tinha tanto de bom como de político salazarista, que até o próprio Salazar lhe ficava a quilómetros de distância. Todo o aluno que usasse capa e bactrina não entrava no Liceu, isto é verdade. E no fim do ano dava informações por vezes negativas aos jovens que faziam a récita no teatro 1º de Dezembro na Avenida e ainda iam ao baile de fim de curso, que tinha lugar no Club de Vila Real.

Eu fui uma vítima do Dr. Martinho Vaz Pires, pois na média do 7ºano precisava de 14 valores a inglês e alemão. Como gostei sempre mais de alemão deu-me 15 valores nesta disciplina e mesmo eu tendo feito um exame de inglês para um nível superior a 14 valores, deu-me apenas 13. Tive de ir fazer exame de admissão a Coimbra, à Faculdade de Letras da Universidade, em julho de 1956. Felizmente dispensei da oral, mas naquele tempo a minha estadia em Coimbra custou-me 20 contos. Vinte mil escudos, com o exame na Universidade incluído, era uma pequena fortuna.

E era assim, pois as regras do jogo estavam presentes. Agora ninguém sabe o que vai acontecer no dia de amanhã aos mais variados níveis. Penso na ajuda do Senhor do Calvário e que seja favorável aos vila-realenses que tanto o veneram e respeitam. 

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