O ano de 1910 foi o da República, 14 do início da I Grande Guerra, 17 da revolução bolchevique e coevamente das aparições de Fátima, 18 e 19 da pneumónica, 29 do crash de Wall Street, 38 o da aurora boreal, 41 o ano do ciclone, 44 o ano da fome devido a uma geada negra que assolou as nossas terras de Trás-os-Montes, 61 o ano do inicio da emigração para a Europa e da guerra colonial em Angola, 69 o da ida à lua, 74 o ano do 25 de abril e 89 o da queda do muro de Berlim e da emergência de uma nova ordem mundial.
O ano de 2020, prestes a terminar, ficará na história como o ano da Covid-19 e, para não deslustrar, o ano da vacina que há de debelar esta crise sanitária; é também para mim o ano do triunfo da ciência e de acreditar que cabe aos cientistas encontrar soluções para muitos dos males da humanidade.
Como consequência do que ocorreu durante este ano, iremos assistir a uma retração no processo de globalização tornando as economias mais sustentáveis quanto à exploração dos recursos naturais e do transporte de mercadorias. Será interessante que as diferentes regiões se tornem mais robustas na satisfação das suas necessidades e amigas do ambiente pela proximidade.
Talvez se tenham afirmado formas de cooperação e solidariedade entre os povos com vantagens relacionadas com o desenvolvimento dos territórios mais próximos.
Passará a haver uma maior consciência ecológica, porque as disrupções causadas nos ecossistemas estão na base desta pandemia e poderão estar em outras no futuro.
Será o ano da unidade na União Europeia que soube encontrar o melhor caminho no âmbito da mutualização da dívida e do estímulo às economias, evitando que as mais frágeis fiquem à mercê dos mercados e fundos abutres especializados no assalto pirata às populações e na apropriação dos seus recursos.
Será o ano do triunfo, da solidariedade, do Estado Social, do SNS e do Estado no seu todo, a quem tudo se pede, mas nada se quer dar. Como consequência, 2020 é também o ano da derrota da cartilha neoliberal, do negacionismo promovido por hordas digitais que alarmam as sociedades com falsas notícias e desinformação, das multinacionais predadoras, dos que teimam em pagar impostos fora dos seus países, ato merecedor da indignação dos contribuintes.
Deveria ser o tempo de anunciar o uso de pesticidas ecológicos na agricultura, da descarbonização da indústria e transportes, das energias alternativas e de erradicação da pobreza, âmbito em que a comunidade europeia deve ser pioneira.
O cosmos, entendendo-o cada um como quiser, por vezes, recorre a estes sobressaltos económicos e de consciência para que a humanidade volte aos trilhos da razoabilidade.
Como modelo de recuperação económica continuo a preferir Keynes a Hayek, a cooperação e solidariedade à acumulação desenfreada de riqueza.
Promover a inclusão e debelar a pobreza custará menos do que a ganância dos poderosos. É na família e na escola que se sedimenta a consciência do novo mundo.