Recordo, com alguma graça, o dia em que tive de «correr» todas as secções do Centro de Instrução de Comandos, vulgo CIC, para autenticação da chamada Guia de Desembaraço (documento comprovativo de que nada estava em falta por parte do militar que tinha terminado a sua comissão de serviço) e o capitão Fernando Robles, nessa altura a comandar a CCS, quando me viu na Secretaria da Companhia a fazer entrega, ao 1.º sargento Rodrigues, da respetiva Guia, virou-se para mim e disse: «Ó Varandas, você já acabou a comissão? Parece que ainda ontem chegou?» E eu respondi: «é verdade, meu capitão. Já cá «cantam» dois anos e 38 dias». O outro dia não podia contabilizá-lo, por que só no dia seguinte iria partir.
Não posso deixar de registar, com muito agrado, o gesto solidário com que fui distinguido, na véspera da minha partida, ao ter sido brindado com um lanche de despedida, partilhado por toda a equipa das Oficinas de Manutenção Auto, que muito me sensibilizou.
Embarquei no Aeroporto Presidente Craveiro Lopes, em Luanda, no avião dos TAM. Fez questão de me levar ao aeroporto o meu inesquecível amigo 1.º sargento Bento, no seu Renault Dauphine, creio que era essa a marca, atitude que me muito tocou e que nunca esquecerei. Conservo ainda, na minha memória, o momento inesquecível, daquela imagem cinematográfica, da entrada para o avião. A plataforma de embarque estava dividida em duas partes, separadas por um cordão. Numa, encontravam-se os militares acabados de chegar e na outra os que partiam. O semblante carregado e triste, de pele branquinha, dos que integravam o contingente recém-chegado, contrastava claramente com a pele queimada pelo sol africano e o ar descontraído e feliz dos que partiam. O avião levantou voo cerca das 9 horas, tendo chegado a Lisboa, à Base Aérea de Figo Maduro, por volta das 17h30.
À nossa chegada, fomos rececionados por uma equipa de militares do QG/DGA, para cumprimento das formalidades legais. Foram-nos distribuídas umas declarações atestando a nossa chegada de Angola, para eventuais trocas cambiais, isto é, de alguns angolares por escudos, assim como um prospeto indicativo dos locais espalhados pelo território nacional a que podíamos recorrer no caso de sermos acometidos por qualquer ataque de paludismo.
Terminava assim, nesse dia 17 de setembro de 1973, a minha odisseia africana, feliz e de consciência tranquila pelo dever cumprido, com a vantagem também, porque não dizê-lo, de ter conquistado novas e enriquecedoras amizades que ainda hoje se mantêm, apesar da «marcha» inexorável do tempo.
P.S. – Participei no último domingo nas comemorações do centenário do Núcleo de Vila Real da Liga dos Combatentes, na qualidade de membro da Direção Central desta nobre e secular instituição. As cerimónias decorreram com muita elevação e dignidade, quero, por isso, felicitar toda a Direção do Núcleo e, em especial, o seu Presidente, coronel Luís Abelha. Parabéns ao Núcleo de Vila Real e aos Combatentes vila-realenses.