Quarta-feira, 9 de Outubro de 2024
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Eduardo Varandas
Eduardo Varandas
Arquiteto. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

O Senhor Reigoto

Há cidadãos que pela sua postura irrepreensível, perante a sociedade, deviam merecer dela o devido reconhecimento, o que nem sempre acontece, pelo contrário, na maioria das vezes são votados ao esquecimento e ostracismo.

Esta constatação vem a propósito do exemplo de um homem, nado e criado na minha aldeia, o Sr. Reigoto, que dedicou grande parte da sua vida a praticar o bem comum, pelo que, entendo ser meu dever evocá-lo aqui, com todo o merecimento.

Recordo-me, ainda hoje, da sua fisionomia, de baixa estatura, usando um pequeno chapéu, tipo chapéu de coco, sempre com aquele ar de bonomia e sentido de humor que o caracterizavam. Sendo um dos mais abastados proprietários de Guiães, franqueava sempre as portas de sua casa aos mendigos das redondezas, que nos anos 50/60 do século passado, demandavam aquelas paragens, em busca de algo que lhes mitigasse a fome e permitisse o amealhar de alguns trocos que a generosidade dos meus conterrâneos, naqueles tempos de miséria e obscurantismo, nunca regateavam.

Não raras vezes, quando esses desfavorecidos da sociedade não conseguiam regressar às suas terras de origem, pernoitavam nas instalações daquela casa ampla e acolhedora, graças à hospitalidade do seu proprietário.

Vivia no cimo do lugar, numa casa que ainda hoje preserva as características de outrora, graças ao zelo e perseverança do seu atual proprietário, o Emílio Figueiredo. Uma das singularidades desse edifício tinha que ver com a existência de uma pequena sineta, que ainda mantém, colocada junto a uma das janelas da fachada principal, simbolizando a época em que as casas afidalgadas se apetrechavam com esses meios de comunicação sonoros para alertarem, ao toque das badaladas, os trabalhadores rurais, ao seu serviço, avisando-os dos períodos de pausa para as refeições.

Dizia-se nessa altura que parte do seu património foi conseguido através do negócio do volfrâmio, a que ele e muitos homens desse tempo se dedicaram, durante a 2.ª Guerra Mundial. Minério arduamente disputado pelas nações beligerantes, extraído das minas de Vale das Gatas, no vizinho concelho de Sabrosa.

Outra das suas características peculiares tinha que ver com o facto de ser a pessoa da aldeia com mais afilhados. Havia uma tendência natural das famílias mais carenciadas em o convidarem para padrinho dos seus filhos, convites que ele nunca recusava, tornando-se assim o homem que, em Guiães, no seu tempo, mais afilhados apadrinhou.
Pelo seu passado e comportamento exemplares o Sr. Reigoto merecia ser recordado e reconhecido pelos seus concidadãos.

Pela minha parte presto-lhe aqui a minha homenagem.

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