Esta constatação vem a propósito do exemplo de um homem, nado e criado na minha aldeia, o Sr. Reigoto, que dedicou grande parte da sua vida a praticar o bem comum, pelo que, entendo ser meu dever evocá-lo aqui, com todo o merecimento.
Recordo-me, ainda hoje, da sua fisionomia, de baixa estatura, usando um pequeno chapéu, tipo chapéu de coco, sempre com aquele ar de bonomia e sentido de humor que o caracterizavam. Sendo um dos mais abastados proprietários de Guiães, franqueava sempre as portas de sua casa aos mendigos das redondezas, que nos anos 50/60 do século passado, demandavam aquelas paragens, em busca de algo que lhes mitigasse a fome e permitisse o amealhar de alguns trocos que a generosidade dos meus conterrâneos, naqueles tempos de miséria e obscurantismo, nunca regateavam.
Não raras vezes, quando esses desfavorecidos da sociedade não conseguiam regressar às suas terras de origem, pernoitavam nas instalações daquela casa ampla e acolhedora, graças à hospitalidade do seu proprietário.
Vivia no cimo do lugar, numa casa que ainda hoje preserva as características de outrora, graças ao zelo e perseverança do seu atual proprietário, o Emílio Figueiredo. Uma das singularidades desse edifício tinha que ver com a existência de uma pequena sineta, que ainda mantém, colocada junto a uma das janelas da fachada principal, simbolizando a época em que as casas afidalgadas se apetrechavam com esses meios de comunicação sonoros para alertarem, ao toque das badaladas, os trabalhadores rurais, ao seu serviço, avisando-os dos períodos de pausa para as refeições.
Dizia-se nessa altura que parte do seu património foi conseguido através do negócio do volfrâmio, a que ele e muitos homens desse tempo se dedicaram, durante a 2.ª Guerra Mundial. Minério arduamente disputado pelas nações beligerantes, extraído das minas de Vale das Gatas, no vizinho concelho de Sabrosa.
Outra das suas características peculiares tinha que ver com o facto de ser a pessoa da aldeia com mais afilhados. Havia uma tendência natural das famílias mais carenciadas em o convidarem para padrinho dos seus filhos, convites que ele nunca recusava, tornando-se assim o homem que, em Guiães, no seu tempo, mais afilhados apadrinhou.
Pelo seu passado e comportamento exemplares o Sr. Reigoto merecia ser recordado e reconhecido pelos seus concidadãos.
Pela minha parte presto-lhe aqui a minha homenagem.