Macron referia-se aos produtos agrícolas franceses, em risco de sofrerem com a sanha desenfreada do Presidente americano das tarifas sobre as importações. Mas o sentido das suas palavras tem cabimento nestas questões, como nas outras. Os EUA ajudaram a Europa democrática a libertar-se da ditadura nazi. Depois, contribuíram fortemente para a revitalização da Europa, para a estabilização dos sistemas democráticos, para a paz, mas também aí “não houve almoços grátis”. Quando, mais tarde, precisaram de se libertar do estigma do ataque de 11 de setembro às torres gémeas de Nova Iorque puderam contar com os aliados europeus. Aí, o famoso artigo 5º da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) funcionou. Sem tarifas!
Hoje, os novos, digo novos, no plural, porque é essa a imagem que transparece, inquilinos da Casa Branca parecem ter esquecido tudo isso. E ameaçam, atacam com linguagem desabrida, até ofensiva, todos os que lhe aparecem pela frente, mesmo, os aliados. Os vizinhos do Canadá, também membro da NATO, e o México foram os primeiros. Agora, é a Europa que está na sua mira. Será a sua economia que lhe faz sombra? Serão os 500 milhões de consumidores europeus? Não é suposto que uma economia próspera receie a economia de países aliados. Daí, a perplexidade que nos assalta. Aliás, como o tratamento dado a um povo herói, como é o povo da Ucrânia, com exigências a destempo e carregadas de sentido persecutório. Tal como fizeram internamente com imigrantes e com pessoas “gays” e transgénero.
Nesta circunstância, foi louvável o discurso de Mariann Edgar Budde na cerimónia litúrgica em que esteve o Presidente dos EUA, no dia seguinte ao da tomada de posse, implorando “misericórdia” para com “as pessoas do nosso país que estão assustadas agora”, porque “todos nós já fomos estrangeiros nesta terra.” Ocorreu-me revisitar a encíclica do Papa Francisco, precisamente, num momento em que a sua saúde está muito debilitada. Encontrei: “O individualismo radical é o vírus mais difícil de vencer. Ilude. Faz-nos crer que tudo se reduz a deixar à rédea solta as próprias ambições, como se, acumulando ambições e seguranças individuais, pudéssemos construir o bem comum.” Ambas as mensagens se enquadram nos três pilares da civilização ocidental – a filosofia grega, o direito romano e a moral cristã. Que o atual poder nos EUA despreza.