Refiro-me concretamente, a Fernando Chalana, antigo futebolista do Benfica e da seleção nacional, ao serviço dos quais se notabilizou, e ao General Almeida Bruno, militar distinto, com uma folha de serviços notável, quer enquanto combatente em África, quer no desempenho de outras funções públicas como, por exemplo, a de Comandante-Geral da PSP e de Presidente do Supremo Tribunal Militar. Para além disso, era também detentor da Torre Espada, a mais alta condecoração nacional.
Os órgãos de comunicação social portugueses deram o devido relevo ao falecimento de Fernando Chalana, principalmente as televisões e a rádio nacionais, em horário nobre, enquanto que no caso do General Almeida Bruno, a notícia do seu passamento não passou de uma mera nota de rodapé.
Esta diferença de tratamento, por parte dos média nacionais, revela uma falta gritante de sentido das proporções, lamentável e incompreensível.
Infelizmente, o futebol sempre constituiu uma atividade com enorme potencial para atrair as massas populares, servindo para as manter afastadas dos grandes temas nacionais e, ao mesmo tempo, apetecível para as estações de rádio e televisão aumentarem as audiências e, por via disso, disputarem, entre si, o mercado publicitário, que rende milhões.
Durante o Estado Novo o fenómeno futebolístico era acarinhado e incentivado pelo poder político, na medida em que isso contribuía para manter a população arredada da contestação politica e social. Atualmente, apesar das liberdades conquistadas, assistimos à sua massificação televisiva, radiofónica e jornalística como nunca se verificou no anterior regime, o que não deixa de ser uma ironia.
Independentemente das qualidades futebolísticas de Fernando Chalana, que não se discutem, é quase como que um crime de lesa-patria sobrevalorizá-las relativamente às do General Almeida Bruno.
Foi, exatamente, por reconhecer a ausência de sentido das proporções, revelada pelos média nacionais nestes dois casos, que devemos censurá-los sem subterfúgios, devendo esta disparidade de critérios, caucionada pelos responsáveis pelas redações dos diversos órgãos de informação nacionais, merecer uma profunda reflexão sobre os critérios editoriais a adotar nestas circunstâncias.