Terça-feira, 15 de Outubro de 2024
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António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO | Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real

Os netos, ou um regresso imperfeito

Ou… Pum. As pernas pareciam molas bem oleadas. Aquelas, ainda não tinham caruncho, pensei com os meus botões, a quem as idas ao ginásio parecem estar já a fazer falta.

Como por cá se dizia noutros tempos, pareciam cabritos a saltar as fragas. Catorze/ quinze anos, o muito. Dois rapazes e uma rapariga. Um deles estancou frente à caixa técnica com os contadores da água e da luz. Será que nunca viu tal coisa? Ou terá gostado da cor discreta da tinta que o arquiteto achou por bem mandar aplicar. E logo seguiu com os outros. Da minha janela fui observando aqueles jovens. A quem pertenceriam?… Logo ali, na esquina da casa, viraram à direita. Ah, exclamei. Vão para o campo de futsal, ali, junto à Casa da Cultura, que noutros tempos, com engenho e arte, a que não faltou a ajuda dos seus avós e de outros que agora vamos amparando o caruncho que foi surgindo, levantámos, com a colaboração de todos, traduzida em dias de trabalho, pinheiros para as escoras, ou donativos em dinheiro para pagar os sacos de cimento, os blocos e os m3 de areia.

Perguntei à minha mulher quem seriam. Pela pinta, o da frente, é neto do M… (lá disse o nome, que aqui omito, se me permitem); a menina pertence à filha da…; o outro – o que ficou a olhar algo espantado para a porta da caixa técnica – não sei a quem pertencerá. Aí, os meus botões sugeriram-me que talvez fosse um colega que veio lá da terra de França, onde vivem os pais e para onde saíram os avós nos anos 70/80 do século passado, onde criaram outras raízes, fruto da escola que frequentam, da rua onde vivem, e que ali fizeram as suas amizades. Tal como os pais, certamente, ali estabelecerão outros relacionamentos que os/as levará a constituir família. Depois, virão os/as bisnetos/as e, tal como eles e os pais, por ali ficarão. Sabe-se lá se ainda sentirão vontade de vir à terra dos bisavós, como os avós sentiram necessidade de vir às raízes, pelo menos, uma vez, pelo verão, na Festa? Nunca falhei, ouve-se por aí. Só com o vírus é que no ano passado não viemos. E repetia, como que reforçando a ideia – “nunca falhei”.

Pois é. Da minha janela, ali pelos meados de agosto, aconteceu na minha, na nossa – porque também foi dos seus pais – rua, pois ali jogámos ao Malhousse e ao Tiroliro, à Xôna e ao Pirogalo. Jovens que este ano vieram à terra… dos avós. Não houve festa. Mas agosto é o seu mês. Por isso, a aldeia voltou a ter vida. Com regressos imperfeitos.

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