Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
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Eduardo Varandas
Eduardo Varandas
Arquiteto. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Os novos fazedores da história

Há dias, no jornal da RTP2, uma conhecida figura pública, a propósito do lançamento de um livro de sua autoria, resolveu perorar sobre os malefícios do colonialismo português, o racismo e o designado luso-tropicalismo, a que não faltou discorrer sobre o massacre de Wiriamu que, por coincidência, perfazia, nessa data, o seu 50º aniversário.

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Usando uma retórica eivada de facciosismo, pondo em causa o nosso passado histórico, enfatizou os tristes acontecimentos ocorridos, em 16 de dezembro de 1972, em Wiriamu, em Moçambique, como se durante a guerra do Ultramar só uma das partes em conflito tivesse cometido crimes censuráveis. Esqueceu-se, este diligente arauto dos novos tempos, por exemplo, de referir os massacres cometidos pela UPA, de Holden Roberto, em março de 1961, na Fazenda Tentativa, às portas de Luanda e no norte de Angola, onde mais de duas mil almas foram massacradas, entre brancos e negros da etnia bailunda, vítimas da sanha persecutória e irracional de bandos organizados de guerrilheiros, da então designada União dos Povos de Angola. Massacres, com violações sexuais, corpos esquartejados e mutilados à catanada, que, mais tarde, foram reconhecidos pelo próprio Holden Roberto, como um infeliz acontecimento que devia ter sido evitado.

Numa guerra, com as características daquela que ocorreu em África as partes em conflito, infelizmente cometem crimes abomináveis, porque ambas procuram captar o apoio das populações, exercendo represálias, sobre as mesmas, quando, em situações de descontrolo, verificam da parte delas falta de recetividade aos seus apelos de colaboração.
Dizer que o Infante D. Henrique foi um dos maiores responsáveis pelo tráfico negreiro, como esse senhor afirmou, é desvalorizar a ação meritória que, um dos mais lídimos representantes da Ínclita Geração teve para o sucesso da nossa epopeia marítima.

Afirmar que o luso-tropicalismo, conceito criado pelo antropólogo brasileiro Gilberto Freire, é uma farsa e que a miscigenação resultante do relacionamento entre portugueses e a população autóctone, cujo exemplo mais conhecido foi seguido por Afonso de Albuquerque, como governador da India, ao promover e incentivar o casamento dos portugueses com as mulheres indígenas para criar uma raça luso-indiana, é fazer uma interpretação reducionista da História, com a agravante de empolar episódios de violência sexual e escravidão, exercidas pelos colonialistas sobre as mulheres negras, para justificar a existência de mulatos e mulatas.

Evidentemente, que a presença portuguesa nos antigos territórios sob sua administração, não está isenta de erros, mas relevá-los, menosprezando os fatores positivos, para denegrir a História Lusa, não passa de uma manobra intelectualmente desonesta e vil.

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