Esta pergunta é respondida pelos governos europeus com mais repressão, com mais confinamento e com mais dúvidas e incertezas. Vamos fechar-vos em breve em casa, vamos obrigar-vos a correr mascarados para as compras, a ter aulas à distância, enquanto os hospitais – públicos e privados – conseguirem vazar as pressões de tantos utentes com necessidades de cuidados intensivos. Depois de mais uma vaga de repressão, em que usamos a sociedade como mais uma cobaia de ensaio, notaremos que sabemos cientificamente tanto em outubro como sabíamos em março ou em abril, dando espaços abertos, enormes e abertos, a teorias de conspiração, de oposição, de revolta moral e de resistência cívica. Parece que é isto que tantos governos, por esse mundo fora, nos dizem hoje.
No entanto, a Economia, enquanto ciência do comportamento, ajuda a responder a esta pergunta. Porque são assim? Porque uns roubam e outros ficam a ver? E porque uns matam enquanto outros são mortos? Porque uns corrompem e outros se deixam corromper? Porque uns ganham e outros perdem? A resposta é simples – porque assim escolheram. E enquanto ninguém nos mostrar que perdemos mais com as escolhas feitas do que ganhámos, continuaremos a apostar naquela casa na roleta, naquela terminação, naquele partido, naquela crença, naquela ideia. Será que a repressão, as multas,a vigilância policial, ou a divulgação de vídeos nas redes sociais apontando infratores, desleixados e despreocupados fará com que eles coloquem as máscaras, com que se distanciem dos outros, com que não sejam agentes eventuais de contágio eventual? E sobretudo fará com que a brutalidade desta segunda vaga não gere mais incertezas, medos e complexos na outra metade? Baggio percebeu a desilusão depois de falhar o penalti que deu o Mundial ao Brasil em 1994. Uns podem até perceber infernos, mais tarde. Enquanto isso, eles aí andam – sem máscara, conversando, quase pornograficamente, com a alegria que nós quereríamos ter. Nessas alturas, lembro-me daquela frase do Adam Smith, em Teoria dos Sentimentos Morais, algo como “Como admiro os ricos, os loucos e os destemidos – porque mesmo que morram nos seus consumos, loucuras ou impulsos mostram-nos – a nós, os sobreviventes – que a nossa vida simples pode ser sempre um pouco diferente.”