E lá encontrámos uma citação de Miguel Torga sobre o “Doiro sublimado”. A autora, e muito a propósito, a certa altura do seu périplo pela nossa terra, deu-se conta de que andava à procura dos locais que o poeta exalta, “dos detalhes e das simplicidades”, dos “socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas”. Também podia ter procurado o Douro de António Cabral, porque, decerto, encontrou “montes de pedra dura/gólgotas/onde os geios são escadas!/ (…) vinhas que são o inferno/ (…) o homem/que nada há que não suporte”. Porque a literatura pode dar excelente pretexto ao turismo, entendido este na singeleza de uma atividade em que o homem/mulher visita outro/a homem/mulher. A literatura constitui um excelente meio de dar a conhecer uma terra, uma região.
Há uns anos, quando a Direção Regional de Cultura do Norte tinha, de facto, a sua sede onde originariamente foi instituída, Vila Real, numa feliz iniciativa, publicaram-se uns cadernos sob a insígnia “Viajar com… os caminhos da literatura”. Escritores da região ou a ela ligados foram dados a conhecer: de Miguel Torga a Trindade Coelho, de Guerra Junqueiro a João de Araújo Correia, passando por Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco, entre outros. Deram-se a conhecer os guias dos cantos e recantos que há por aí. Chamou-se a atenção para eles, despertando a curiosidade e o interesse por um conhecimento mais profundo, sabe-se lá, pelo desejo de uma visita mais cuidada aos sítios de que nos falam, das histórias que nos contam.
Numa região com excelentes vinhos, onde se tentou criar a rede de Aldeias Vinhateiras, expressão sintetizada de um património cultural que o Alto Douro Vinhateiro também é, encontramos na literatura um outro produto turístico suficientemente rico para motivar a visita. Autores, uns mais conhecidos, outros menos; uns de nível mundial, outros de âmbito mais regional ou nacional; uns mais antigos, outros mais contemporâneos. Num repente, encontramos Torga e António Cabral, ligados a Provezende e a Favaios; Abel Botelho e José Maria Cunha Seixas, a Barcos e Trevões; José Leite de Vasconcelos, a Ucanha e Salzedas. Responderemos, assim, ao desafio de João de Araújo Correia na sua “Pátria pequena” – «faltou-nos a voz para apregoar: vinde ver! Vinde ver!». Não nos falte o engenho para o pregão!