Ainda me lembro da afirmação do médico legista José Eduardo Pinto da Costa, irmão de Pinto da Costa, falecido Presidente do FCP, num programa de televisão, enquanto afagava a sua farfalhuda barba: “Dizem que o Espírito Santo nos habita, mas já fiz centenas de autópsias e nunca vi o Espírito Santo em lado nenhum”. Claro que não viu nem podia ver.
Estamos a falar de realidades muito diferentes. Para muitos, a Igreja é uma instituição como as outras, onde não faltam ambições, jogos de poder, jogadas de bastidores e confrontos de fações. Pode até ter isso, porque é feita de homens e mulheres, mas é muito mais do que isso. A Igreja, de facto, não é uma instituição como as outras. É humana e divina, e quem a conduz e vivifica é o Espírito Santo.
Como crente, acredito profundamente que o novo Papa é um dom do Espírito Santo à Igreja. Reparemos como o novo Papa é o somatório de muitos sinais: é filho de emigrantes europeus, nasceu nos Estados Unidos da América, tem formação em matemática, filosofia e direito canónico, três mundos do saber muito diferentes, foi missionário, é um homem do terreno, conhece as periferias da Igreja, foi arcebispo no Peru, foi superior geral da Ordem de S. Agostinho, Ordem que fundou a interioridade, e ultimamente era o Prefeito do Dicastério para os Bispos e Presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, no Vaticano. Foi professor e administrador. É inquestionável que foi uma boa escolha, onde não falta um sólido substrato humano, missionário, espiritual, académico, social e eclesial.
Poucas figuras na Igreja conseguem ter esta harmonia e conjugar estes predicados.
Parece ser um Papa da continuidade, mas saberá encontrar o seu caminho e a sua singularidade. Escolheu o nome Leão XIV, no seguimento de Leão XIII, Papa que fundou a Doutrina Social da Igreja, com a publicação da Encíclica Rerum Novarum (Das Coisas Novas). Até agora prima pela serenidade e simplicidade. Novas questões políticas, humanas e sociais se levantam: encontrar soluções para a paz, enfrentar a secularização crescente na Europa, solidificar a sinodalidade na Igreja, dar resposta aos desafios da nova revolução industrial em marcha, e até enfrentar o populismo e o extremismo, são alguns dos desafios do seu pontificado.