Isto pressupunha o reconhecimento de competências, desenvolvidas através da experiência de vida dos candidatos, para serem, posteriormente, validadas, dando-lhes a equivalência a um grau escolar previamente reconhecido, de acordo com critérios específicos.
Esta iniciativa foi alvo de acérrimas críticas por parte de diversas figuras públicas, com o argumento de nela imperar o facilitismo e se limitar a conceder diplomas sem atribuir aos formandos novos conhecimentos e competências.
Num livro publicado em junho de 2010, pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, “O Ensino do Português”, de Maria do Camo Vieira (MCV), professora do Ensino Secundário, vem demonstrado, através de alguns exemplos, a perversidade de tal programa. Cita, por exemplo, o caso em que, para se valorizar um dado perfil, surgiu o curso de “Jogador/a de Futebol” com equivalência ao 9.º ano, promovido pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional/Centro de Emprego e Formação Profissional da Guarda, e iniciado em 2007. De acordo com o folheto informativo, o referido curso destinava-se a jovens entre os 15 e os 25 anos, com o 6.º ou o 7.º anos de escolaridade, e uma das atividades principais privilegiava o saber “utilizar a imagem pública na construção da carreira e do êxito pessoal, na divulgação da equipa e do clube que representa”, alimentando a ilusão de um dia igualarem um dos muitos milionários do futebol, nacionais ou estrangeiros. Nada do que aqui se refere tem como finalidade diminuir a iliteracia ou o investimento na formação cultural dos candidatos, parecendo tudo resumir-se a “encontros de futebol, execução de exercícios físicos e táticos, ou treinos de conjunto”. Como é possível atribuir a este curso a equivalência ao 9.º ano se, na realidade, não se equivalem?, argumenta MCV.
Outra situação estranha verificava-se no capítulo das vivências humanas dos candidatos, das quais retiravam todos os aspetos que podiam ser realizados como competências, designadamente saber lidar com uma torradeira elétrica, ou com uma máquina de lavar loiça ou com um micro-ondas, por exemplo, para depois serem validadas tendo em vista a certificação final.
MCV remata com a seguinte conclusão: “Vivemos, sem dúvida, em matéria de Educação e de Instrução, no reino do absurdo, deixando-nos manipular e seduzir por facilidades e contínuas ilusões que nos despojam das nossas próprias capacidades”.