Foi o que aconteceu, há uns tempos, quando caminhava pela Rua da Escola Politécnica, defronte da Igreja de S. Mamede, e entrei na que aí se encontrava colocada. Na circunstância, acabei por adquirir um livro de Amadeu Gomes de Araújo, intitulado Um erro de Afonso Costa, As Missões Laicas Republicanas (1913 – 1926), da editora Aletheia, prefaciado por Mário Soares.
Embora o tema do livro sejam as Missões Civilizadoras, formadas no Colégio de Cernache de Bonjardim, aborda também o panorama de uma época conturbada da vida portuguesa, com episódios tão controversos como o que é atribuído a Afonso Costa quando este afirmara, em março de 1911, «que em duas gerações Portugal terá eliminado o catolicismo». Tese partilhada por outras figuras gradas do republicanismo, como por exemplo, Magalhães Lima, Grão-Mestre da Maçonaria, que declarara num comício, em maio do mesmo ano, o seguinte: «dentro de alguns anos, não haverá mais quem queira ser padre em Portugal. Os seminários ficarão desertos».
A obsessão anticlerical, desse período convulso da nossa História, levou os próceres do novo regime a criar um manual doutrinário conhecido por Credo Republicano Português, que começava com a seguinte máxima: «Creio na Deusa Natureza, toda poderosa, criadora da terra lusitana». O culto da árvore, aparecia como a essência de uma nova doutrina filosófica, defendida por intelectuais republicanos, como Guerra Junqueiro e Teixeira de Pascoais. Já em 1908, a Liga Nacional de Instrução tinha promovido, em Lisboa, a plantação de árvores, por crianças das escolas, prosseguindo com a instauração da República tão inusitada iniciativa. Procurou-se, desta forma, dar ao culto da árvore o significado de uma festa nacional, argumentando-se que enquanto «organismo vivo, nasce como nós, cresce e morre como nós», para de novo voltar a renascer da sua semente.
Propunham-se até práticas excursionistas como alternativa às romarias religiosas.
A descristianização, a rutura com a Igreja, defendidas pelo programa republicano, eram alimentadas por uma linguagem bíblica, que apontava para «uma nova era», para «um novo tempo», para o «homem novo». Até Leonardo Coimbra, pai do criacionismo, mais tarde convertido ao catolicismo, defendia, em 1911, que face ao «êxodo» da Igreja Romana, o povo devia encontrar outra religião, na «imensa catedral da natureza».
Na realidade, verificamos que, apesar do radicalismo, malfeitorias e perseguições que ocorreram na vigência do regime republicano, todo o afã anticlerical acabou por ser votado ao fracasso.