Fixei com um certo sorriso, podem crer, a expressão – A Tribo Urbana – de uma participante num programa da Antena 1 sobre o impacto das eleições norte-americanas no mundo, com especial incidência na Europa, apresentada como sendo deputada à AR e especialista em relações internacionais. Enquadrou a sua análise nos públicos a que Kamala Harris se dirigia e na forma como a sua mensagem passou, ou não passou. Referiu que as pessoas não se reveem no cosmopolitismo e progressismo que ela transmitia. Sim, há essas tribos.
E outras, periurbanas ou rurais. Temos, pois, várias tribos: umas, abertas a essa mensagem; outras, avessas; umas atentas e empenhadas no respeito pelos direitos humanos, outras, mais atreitas à procura da riqueza, mesmo que com exploração de membros de outras tribos. Também aqueles que consideram os concertos de André Rieu “parolos” e para “parolos” se mostram como tribos urbanas possuídas por um “non-sense” assinalável. Os que não sabem o que é uma enxada ou nem imaginam o que é trabalhar sem retorno suficiente a uma vida digna integram outras tribos.
Os resultados das eleições americanas fazem jus aos que consideram as sondagens falíveis.
“Como mentem as sondagens”, título de um livro sobre esta problemática mostrou-se, também aqui, pertinente. Quando se veem reportagens a auscultar a opinião de eleitores americanos que votam Trump “para que não deixe entrar mais imigrantes” e se constata que o entrevistado é peruano, quando se verifica que eleitoras que era expectável votarem em Kama Harris e votaram no outro candidato, já se pode compreender melhor este fenómeno. Parece que ali aconteceu o que se tem vindo a verificar também em vários países europeus. Vêm à luz do dia muitos simpatizantes de ideias da direita radical que deixaram de recear votar em candidatos com propostas dessa área. Veremos com que consequências, a nível individual e a nível global. A Europa, no seu todo, e a União Europeia, em particular, têm muito a refletir.
Perante a constatação de que muitos estratos da sociedade americana se deixaram convencer pelo candidato cujo ideário era suposto ser menos do seu interesse ocorre-nos a afirmação de Paulo Freire, que cito de artigo no Expresso «Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.» Ou, quando a democracia não responde cabalmente há o risco de se escolher a autocracia.