WC, mesmo com algumas contradições, sempre defendeu a união da Europa como forma de sedimentar a paz e construir o progresso económico. Depois de muitos avanços e recuos a adesão da GB à Europa verificou-se em junho de 1975 depois de ter sido aprovada pelo povo inglês em referendo. O imbróglio que estamos a viver com o Brexit é incompreensível pela sua completa irresponsabilidade. Os britânicos resolveram sair da Europa sem fazerem a mínima ideia do que isso implica e sem terem qualquer plano, uma linha escrita sequer, não medindo as consequências para o povo britânico e para os europeus do seu ato. O referendo que deu origem ao Brexit foi conduzido de ânimo leve e sem qualquer preparação porque os seus promotores estavam convencidos de que o remain venceria facilmente e tudo continuaria na mesma. Tudo tem sido conduzido com uma leviandade absolutamente inacreditável. A demagogia e a irresponsabilidade apoderaram-se de alguns políticos britânicos que não hesitam em recorrer a Churchill tentando estabelecer um paralelo com as suas posições quando na década de 30 antes da guerra enfrentou sozinho Hitler. É verdade que durante muitos anos WC contra tudo e contra todos, incluindo contra o seu partido e contra o seu governo, foi avisando para o perigo de Hitler e da Alemanha nazi. Foi graças à persistência e coragem de WC, não esquecer que Chamberlain (1º Ministro) e Halifax (Ministro dos Negócios Estrangeiros) queriam negociar com Hitler, e à ajuda dos Estados Unidos que os aliados venceram Hitler e a guerra. A visão e a luta de WC, que teve razão antes do tempo, foram extremamente importantes para a vitória dos aliados, mas longe de daí se poder inferir que a GB não precisa da Europa e que “vencerá” sozinha. De resto, seria bom que muitos dos eurocéticos britânicos admiradores de WC e seus seguidores recordassem as suas posições sobre a Europa Unida. O livro de Felix Klos “Unir a Europa. A Última Batalha de Churchill” (2016) é muito esclarecedor sobre o que grande líder inglês pensava e defendia para o velho continente. Logo após o final da guerra Churchill, em setembro de 1945, proferiu um discurso esclarecedor na Universidade de Zurique: “Este nobre continente, que contém as regiões mais belas e melhor cultivadas do mundo. que goza de um clima temperado e regular, constitui o berço e a morada de todos os grandes povos irmãos do universo ocidental. Ela é a origem da fé cristã e da moral cristã. É dele que são na maior parte oriundas as culturas, as artes, as ciências, a filosofia, nos Tempos Modernos como na Antiguidade. Se a Europa pudesse um dia unir-se e partilhar esta herança comum, não haveria limite algum para a felicidade, a prosperidade e a glória dos seus 300 ou 400 milhões de habitantes”. O remédio é, portanto, simples: “É formar de novo a família europeia e, em toda a medida do possível, dar-lhe uma estrutura que lhe permita viver em paz e em liberdade. É, por isso, que devemos edificar uma espécie de Estados Unidos da Europa. Para isso é necessário a reconciliação entre a França e a Alemanha”. Em 1947 o que WC defendia era muito claro: “Quando o poder nazi foi quebrado, perguntei-me a mim próprio qual era o melhor conselho que podia dar aos meus cocidadãos aqui, nesta ilha, e no outro lado do Canal, no nosso devastado continente. Não houve qualquer dificuldade em responder à pergunta. O meu conselho à Europa pode ser dado numa única palavra “Unam(-se)!”.
É certo que a GB nunca esteve totalmente com a Europa e, talvez, por isso mesmo nunca aderiu ao euro. Mas este abandono abrupto e precipitado da União Europeia vai custar caro aos ingleses. Não direi que os seus dirigentes mereçam o inferno como disse o Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, mas acho que merecem ser penalizados pela sua arrogância e incompetência. O futuro far-nos-á essa justiça, porque como diz o povo “Cá se fazem, cá se pagam”.