Segunda-feira, 14 de Outubro de 2024
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António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO | Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real

Douro – rio de mau navegar

João de Araújo Correia (JAC), o grande contista e cronista do Douro, usa esta expressão popular dos marinheiros do rio Douro para evidenciar os riscos que eles corriam quando desciam ou subiam o rio no Barcos Rabelos que escoavam o vinho e abasteciam a região.

A frase traduz também com fiabilidade o estado de espírito dos lavradores do Douro na safra do trabalho da vinha, da poda à vindima. Também Jaime Cortesão que considerou o Douro “o mais belo e doloroso monumento ao trabalho do povo português” se referiu ao trabalho da plantação das vinhas do Douro como muito duro. E quando vemos as vindimas de 2024 e ouvimos alguns produtores, designadamente, os que melhor conhecem e/ou sentem a região, a convicção aprofunda-se: a vindima tem, por tradição, uma componente de festa; este ano, não.

O reconhecimento desta realidade deve levar os durienses a uma atitude pró-ativa e a não esperar que outros façam por nós. Decerto que JAC apontaria caminhos como fez muitas vezes. Não sei mesmo se concordaria com o que alguns têm proposto. A Comunidade Intermunicipal do Douro (CIMD) tem uma legitimidade própria para encarar e propor soluções para toda a região. Creio, todavia, que a proposta que levaram à Assembleia da República e que os jornais, recentemente, nos deram a conhecer, não será a mais consentânea com as necessidades da região. JAC referia o turismo como uma segunda vindima e escrevia à guisa de pregão a ser usado pelos durienses – “vinde ver, vinde ver!”. “Os autarcas da Comunidade Intermunicipal do Douro defendem a criação de uma taxa de sustentabilidade territorial a aplicar em hotéis, barcos ou comboios turísticos entre março e outubro” pôde ler-se num take da Lusa,. Impostos para quem nos visita? Mais encargos para quem investe no Douro, grandes e pequenas empresas, a captar taxas para quê? Ah!

A entregar à guarda do IVDP! Para entraram nas suas receitas e ficarem cativas como as outras taxas que os vitivinicultores já pagam?! Um turista que vem ao Douro e permanece quatro noites, visita uma quinta para degustação, faz um cruzeiro no rio e uma viagem no comboio histórico, a avaliar pelo que consta na notícia, quantas taxas deverá pagar?

Acredito que não é isto que a CIM deseja. Mas talvez seja bom procurar outros caminhos. Não se enjeite ninguém. Todos são úteis. Impliquem-se também entidades de cariz regional, como a CCDR-N. Os autarcas têm o direito de ser atendidos quando a ela se dirigem. Oiça-se a academia, as empresas, também as cooperativas. Analise-se a História.

Há de encontrar-se uma boa solução.

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