Já se estava à espera que fosse esta a decisão, depois do parecer favorável que foi emitido para a exploração mineira em Covas do Barroso, no concelho de Boticas. As condições exigidas são costumeiras, como seria de esperar: plano para isto, plano para aquilo, definição de medidas compensatórias para ali, medidas de minimização para acolá, proteção para aqui, proteção para acolá. A fatura desta conversa toda vai ficar para o povo de Barroso, que vai levar com as escombreiras por muitos anos, vai ficar com a paisagem destroçada, com enormes furnas e crateras, que vai ver parte da sua água cristalina canalizada para esta aventura mineira, e digo aventura, porque é assim que alguns geólogos a classificam, que vai ver bons rios inquinados e suas espécies profundamente ameaçadas, que vai enfrentar novos desafios de saúde pública e de sustentabilidade da sua agricultura.
Se boa parte das prospeções que foram feitas em Barroso obtiverem bons resultados e se aprovarem futuros projetos mineiros, Barroso será transformado, como já se disse, num enorme estaleiro mineiro, esventrado por todo o lado. Como é que é possível permitir toda esta violação mineira numa região classificada como património agrícola mundial e reserva da biosfera, que tem das melhores carnes do mundo e do melhor fumeiro que se produz a nível mundial? Como é que vão ficar os apoios aos agricultores de Barroso, com tantas minas? Que valor será dado aos produtos autóctones de Barroso, quando as minas estiverem a operar? Quem quererá vir para Barroso, envelhecido e despovoado, quando as minas estiverem a operar a toda a velocidade? Preocupa-se a AIA com o lobo ibérico e suas presas. Merece certamente a sua atenção, mas só quando há minas é que se lembram destas espécies? Muitos parabéns ao trabalho do Estado para que o lobo ibérico sobreviva, um Estado que não põe um coelho no monte, que não tem um projeto para a sustentação da caça digno desse nome, não fossem os cavalos e os rebanhos dos agricultores de Barroso e coitado do lobo ibérico.
Conhecendo-se o histórico da cultura mineira em Portugal e da supervisão que o Estado faz no cumprimento do que exige, a incúria reinante, só nos resta esperar dias tenebrosos para Barroso.