Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2025
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António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO | Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real

O valor das parábolas

Os ecos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Lisboa, ainda se fazem sentir. Positivos na generalidade.

Mas é nosso condão, a tendência para o pessimismo e para a valorização dos aspetos menos positivos também aqui vieram ao de cima. Invocou-se, a propósito e a despropósito, o Estado laico, referiram-se os gastos públicos como ofensa aos não católicos, discorreu-se sobre o número exato dos jovens presentes. A olhar para baixo. Por fim, petições a favor e contra o nome proposto, ao que parece, pelo Dr. Carlos Moedas à ponte que passou a ligar o município de Loures ao de Lisboa.

Houve quem estranhasse que o Papa Francisco recorresse ao uso de figuras de estilo, metáforas, parábolas mesmo, para comunicar a sua mensagem. Será que exagerou? Bom! Há dois mil anos, também assim aconteceu. Mateus escreveu que «Jesus ensinou-lhes muitas coisas por meio de parábolas» 13,3. Foi compreendido por uns, por outros não. Decerto, também hoje isso aconteceu. Francisco, é inegável, faz um esforço para ser compreendido por todos. E porque fala uma linguagem que os jovens compreendem é que acorreram a Lisboa vindos de todos os lados. Muitos não imaginariam sequer onde se localizava a cidade que estava a organizar aquele evento. E a mensagem passou, pois, os silêncios, os aplausos, os sorrisos provam-no bem.

As parábolas facilitam-lhe a tarefa, que se dirige a muitos e variados públicos. Lembrando agora algumas das quezílias que se seguiram, a referência ao “Oceano, filho do céu (Urano)”, lembrando que “a sua vastidão leva os mortais a olharem para cima elevando-se para o infinito”, passando pelo poema de S. de Mello Breyner Andresen, «mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim» vem muito a propósito. Ou a referência ao “abraço ao mar, o abraço da paz”, numa Europa em guerra. E aquela outra em que se viu o Jorge Mario Bergoglio, que gosta de futebol, não fora originário da Argentina, incitando-os a treinar o caminho, que custa fazer, mas que é preciso percorrer, testemunhando a espiritualidade num mundo demasiado materialista. Ainda no desporto, a ninguém terá passado despercebida a alusão às ondas gigantes da Nazaré, quando apela a que “sejam surfistas do amor” e, olhando do alto, cada um terá uma perspetiva melhor do caminho a percorrer.

A mensagem continua com “nenhum de nós é um número, é um rosto, é uma cara, é um coração” e todos têm um lugar na Igreja, quando tantos, por tanto lado e pelos motivos mais díspares, são deixados de fora, ou para trás. Afinal, as parábolas foram usadas com mestria.

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