Sábado, 7 de Dezembro de 2024
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Mário Lisboa
Mário Lisboa
Tenente-Coronel da Força Aérea. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Portugal com medo de ter medo

Vive-se, neste País, um sentimento de inquietação com a ideia de perigo real que se chama «medo».

Cada dia que passa ouvimos notícias que nos mostram, com clareza, que aquilo que se construiu depois de 25 de Abril de 1974, em termos de direitos sociais e qualidade de vida, está a ser desmontado por um poder político alinhado e ao serviço do grande capital financeiro.

Na região de Lisboa, onde tudo acontece para o pior, os que cá vivem sujeitam-se ao sistema por não terem outro remédio para todas estas desgraças.

Um cidadão residente em Sintra, ou na linha do Estoril, prepara-se para ir trabalhar e quando chega à estação depara com uma greve, não só nos comboios, mas também nos autocarros, no metro, etc. Quando chega ao emprego está à espera que a porta esteja fechada ou então lhe digam “está despedido”.

Começou o medo.

– Quando precisa de ir ao hospital para marcar uma consulta, para além de pagar uma taxa, vai esperar no mínimo um mês, se tiver sorte, e também que não haja qualquer greve no referido hospital.

O medo continua.

– Um jovem de 17 anos procura repetir a matemática porque não teve os 16 valores mínimos necessários e imprescindíveis para a sua admissão ao curso superior que sempre quis tirar.

Realmente a matemática, criada pelo atual sistema de ensino, que pretende transformar os jovens portugueses nos «Einstein Europeu», mesmo que esta disciplina nada lhes venha a servir nos cursos que pretende seguir .

O medo subsiste.

– A seguir, este jovem termina o seu curso superior e vai trabalhar como caixa de um supermercado porque não há emprego de acordo com o seu potencial cultural, com medo de ser despedido.

É assim o panorama deste País dilacerado e sem soluções.

Em próximas oportunidades iremos continuar com os medos que afligem muitos dos portugueses, restando a alguns deles que, durante a sua vida, nunca andaram de comboio, autocarro, bicicleta e até continuam a viajar no lugar de trás do seu «Mercedes» a lerem as últimas dos jornais da cor.

Enfim, são só desgraças a que se assiste neste Portugal à deriva com estudados silêncios convenientes dos mais altos responsáveis.

Com o devido respeito pela cidade de Lisboa, ninguém é capaz de escrever e dizer, preto no branco, o que está mal e o que devia estar bem.

Em bom rigor, os detentores da verdade são aqueles que nada sabem e nada debitam.

São esses que, sem olharem ao que fazem, (mal) obrigam os outros a fazerem bem, mesmo que os obriguem a deixar de comer ou a tomar medicação.

Tem de tomar uma opção: alimentação ou morte.

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