Pois bem, nada disso corresponde à realidade. De facto, foram os próprios responsáveis do Movimento que propuseram à Junta de Salvação Nacional (JSN), como se acabou de saber agora, através de uma reportagem realizada pela televisão espanhola, em 26/04/1974, no Posto de Comando do Quartel da Pontinha, que nunca tinha sido exibida e acabou por passar, na noite do último dia 26 de abril, na RTP3, no programa Os Olhos da Revolução.
Nessa reportagem o major Otelo Saraiva de Carvalho, ao ser entrevistado pelo repórter espanhol, afirmou textualmente, o que passo a citar: “nós consideramos que o programa político que apresentamos à JSN, que ela aceitou, será de considerar que essa JSN lutará o mais depressa possível pela reconquista da paz. Quanto àquilo que se pode esperar, os exércitos e as forças armadas são feitas para manter a paz e não para fazer a guerra. Nós queremos manter a paz nos territórios ultramarinos, se a Nação concordar, e a Nação em plebiscito concordar, que os territórios ultramarinos devem continuar a ser portugueses pois nós continuamos, tanto quanto possível, a contribuir para que eles continuem a ser portugueses”, fim de citação.
Na verdade, embora Spínola advogasse uma solução portuguesa para o problema do Ultramar – como expõe no seu livro “Portugal e o Futuro”, que à época, fevereiro de 1974, foi um verdadeiro sucesso editorial, com mais de 100 000 exemplares vendidos no 1.º mês, onde refere o seguinte: «Havemos de continuar em África. Sim! Mas não pela força das armas, nem pela sujeição dos africanos, nem pela sustentação de mitos contra os quais o mundo se encarniça. Havemos de continuar em África. Sim! Mas pela clara visão dos problemas no quadro de uma solução portuguesa» – isso não é justificação para lhe atribuir a paternidade de tal exigência. Se mais provas não houvesse, as declarações de Otelo à televisão espanhola, na noite de 26 de abril de 74, vêm desmentir a falsidade dessas acusações. É indesmentível, que quem falou em plebiscito foi Otelo, sendo que a própria Comissão Politica do MFA, constituída por Vasco Gonçalves, Vítor Crespo, Almada Contreiras, Mário Teles, Costa Braz e Vítor Alves, corroborava essa tese ao alterar o programa do Movimento mantendo, contudo, o artigo 8 e as respetivas alíneas, apenas excluindo a alínea c), conforme se pode verificar pelo exemplar desse documento existente no Arquivo Histórico e Intermédio da Presidência da República.
É caso para dizer que a mentira tem perna curta e a verdade vem sempre ao de cima.