Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2025
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António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO | Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real

Um mundo em grande turbulência

Li há dias que os conflitos atuais se dispersam um pouco por todo o lado. Referia a guerra da Rússia contra a Ucrânia, a de Israel contra o Hamas e o Hezbollah, guerras em Myanmar, no Sudão, ameaças da China a Taiwan e às Filipinas.

Quando, no final dos anos oitenta, se assistiu à queda do muro de Berlim, considerava-se que, na Europa, seria possível viver em paz, longe de ameaças como as que deflagraram na primeira metade do século XX e que a haviam dilacerado por duas vezes, num curto espaço de tempo. Considerava-se, então, que as ideologias xenófobas, racistas, nazis ou fascistas, assim como os regimes autocráticos estavam ultrapassados. Iludidos, ou pouco atentos à História? Talvez. Mas também por cá, embora em menor escala, sentimos a turbulência que perpassa no mundo, como, recentemente, se sentiu em alguns bairros da periferia de Lisboa.

As autocracias proliferam. As ideologias racistas e xenófobas, também. As primeiras vão deixando, aqui e ali, o seu rasto; as segundas manifestam-se, por vezes, com pujança. E em diversos países. Após as últimas eleições legislativas em Portugal, mas dedicando também alguma atenção ao que se vai passando na Europa, quis compreender melhor esse fenómeno. Tenho, para isso, vindo a ler o livro de Vicente Valentim “O Fim da Vergonha – como a direita radical se normalizou”. Olhando para trás e observando o que vai acontecendo, também por cá, ficamos a compreender o fenómeno, quer no que respeita ao rápido avanço da direita radical – “movido por pessoas que já tinham ideias de direita radical, mas que não as mostravam por temer repercussões sociais”, quer no que se refere às três fases que conduzem à normalização – a de latência, a de ativação e a de revelação.

Com esta leitura, também se compreende melhor as atitudes e as declarações de alguns dirigentes partidários, com assento parlamentar, ou não. Preocupante, tudo isto, concordarão.

Entretanto, e assistindo-se a estas sistemáticas ameaças à convivência democrática, como grande declaração no congresso do maior partido que suporta o atual governo, a necessidade de proceder a alterações na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento de molde a libertá-la “das amarras a projetos ideológicos e de fação”. Assim, tal e qual. Ora, o que vimos acontecer na periferia de Lisboa, não é um conselho à alteração, mas antes o aprofundamento da consciencialização dos direitos e deveres da vivência em sociedade num sistema democrático, respeitador das diferenças e potenciador do contributo de todos.

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